25 de junho de 2011

O genuíno culto pentecostal

por Caramuru Afonso Francisco

A crença na atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais jamais pode gerar a banalização da adoração a Deus.

INTRODUÇÃO

- Prosseguindo o estudo das doutrinas da fé pentecostal, analisaremos o culto pentecostal, ou seja, a “reverência respeitosa a Deus“, conforme nos indica o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, inclusive nos utilizado de anotações do nosso saudoso irmão Sérgio Paulo Gomes de Abreu, fundador do Portal Escola Dominical.

- O culto é um ato de adoração, ou seja, ato pelo qual o homem reconhece que Deus é o Senhor de todas as coisas, inclusive do adorador.

- A adoração, embora envolva o culto formal a Deus numa igreja, não se confunde com esta prática, pois é algo que deve estar presente em todas as ações do ser humano, tanto que Jesus nos ensinou que os verdadeiros adoradores adoram a Deus em espírito e em verdade (Jo.4:23), ou seja, em todo o tempo, independentemente de local ou ocasião.

- Os estudiosos identificam os pentecostais por sua liturgia informal e participativa, mas jamais podemos confundir informalidade e participação com ausência de reverência, como, infelizmente, tem ocorrido entre muitos que pentecostais se dizem ser.

I – O QUE É CULTO

- Como já vimos supra, culto é “reverência respeitosa a Deus”, palavra que tem origem no latim “colo”, cujo significado é “cultivar; habitar, morar em; cuidar de, tratar de, preparar; honrar, venerar, respeitar”.

- Vemos, portanto, em primeiro lugar, que culto é o ato de cultivar, ou seja, o ato de cuidar, de criar algo para alguém. A “cultura”, o “cultivo” é uma atividade feita pelo ser humano, uma modificação que pratica no mundo que está à sua volta a fim de satisfazer alguma necessidade. Daí vem a ideia de “cultura”, o “conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo social”. Deus, ao criar o homem, determinou que ele “cultivasse” o jardim que havia formado para ele no Éden (Gn.2:15), demonstrando assim que havia dotado o homem da capacidade de alterar e modificar o que havia sido criado na natureza, ante a sua condição de “mordomo” de Deus sobre a criação terrena (Gn.1:26).

- Percebemos, pois, logo de início, que o “culto” é um ato que deve partir do homem, de sua capacidade, do poder que Deus lhe conferiu, sendo, portanto, algo que tem necessariamente origem no homem e que tem de visar a Deus, já que foi Ele quem deu ao homem tal aptidão.

- “Culto” também significa “habitação”, “moradia”, pelo seu significado etimológico (ou seja, de acordo com a origem da palavra). Quando Deus determinou que o homem lavrasse a terra, cultivasse, mandou fazê-lo no lugar que havia preparado para ele, o jardim que plantou no Éden (Gn.2:8,15), de modo que temos que o culto é, antes de mais nada, a prática de uma atividade no lugar estabelecido por Deus para que o homem esteja. É uma demonstração de amor a Deus e de reconhecimento da Sua soberania no lugar estabelecido para o encontro entre Deus e o homem.

- Isto é importante porque vemos que o culto é uma atitude que exige, antes de mais nada, que o homem esteja no lugar determinado pelo Senhor. Não há como se cultuar a Deus senão estivermos no local indicado por Deus. Por isso, o culto a Deus, no tempo da lei, deveria ser feito exclusivamente no lugar escolhido por Deus (Dt.12:1-14). “Cultuar” é se pôr no seu devido “posto” (Ne.8:7), reconhecer qual é o seu lugar e qual é o lugar de Deus.

- É interessante notar que, na nossa atual dispensação, como Deus está em nós(Jo.14:17,23), não há um lugar exterior determinado para o culto, mas nós mesmos, sendo templo do Espírito Santo (I Co.6:19), devemos cultuar a Deus a todo instante, em espírito e em verdade (Jo.4:21-24).

- “Culto”, por fim, significa “preparo, honra, veneração e respeito”. Não se pode falar em culto se não houver um reconhecimento da superioridade de quem é cultuado em relação a quem cultua. O culto é uma demonstração do reconhecimento da nossa inferioridade diante de Deus, de que Ele é o Senhor e digno de toda a adoração, de todo o louvor (Ap.5:12-14). Através do culto, externamos aquilo que já está em nosso coração, ou seja, a convicção, a certeza e o reconhecimento de que Deus é digno, de que Deus merece toda a honra, toda a veneração, todo o respeito.

- A palavra “culto” aparece, pela vez primeira, na Versão Almeida Revista e Corrigida em Ex.12:25, traduzindo a palavra hebraica ” ‘abodah” (????), cujo significado é “serviço”, “trabalho”, “obra”, precisamente o mesmo sentido que tem a palavra inglesa correspondente (”service”). Esta palavra é repetida em Ex.12:26 e 13:5, sempre se referindo à celebração da Páscoa, bem como em II Cr.34:33, referindo-se aqui não somente à celebração da Páscoa, mas à observância de toda a lei.

OBS: Em II Rs.17:26, a palavra “culto” é tradução de “mishpat” (????), que tem o sentido de “modo”, “maneira, daí porque agiu bem a Versão Almeida Revista e Atualizada ao substituir a palavra “culto” por “maneira de servir”.

- Em o Novo Testamento, a palavra “culto” aparece, na Versão Almeida Revista e Corrigida, em Rm.9:4, Rm.12:1 e Hb.9:1, como tradução de “latreia” (???????), que tem o significado de “serviço prestado a Deus”, de “prática de atos sagrados”. Com exceção de Rm.12:1, as outras passagens também se referem às cerimônias instituídas na lei mosaica. Em Rm.12:1, o apóstolo nos adverte que, na graça, temos de render a Deus um “culto racional”, algo mais sublime que parte do interior do homem, homem este que agora adora a Deus em espírito e em verdade.

OBS: Em Cl.2:18, a palavra “culto” é tradução de “threskeia” (????????), cujo significado é “adoração”, de modo que andou bem a Nova Tradução na Linguagem de Hoje ao traduzir a palavra por “adoração”.

- Tem-se, pois, que o “culto” apresenta três dimensões fundamentais, a saber:

a) a dimensão externa – o culto é sempre um ato que é visível a todas as pessoas, um ato que significa a exteriorização de sentimentos que estão no interior do homem. O culto envolve, assim, um “cerimonial”, um “rito”, um “conjunto de atitudes e ritos pelos quais se adora a Deus”. Diante do respeito e da veneração devidos a Deus, o culto apresenta uma série de atos e de gestos externos, que demonstram a seriedade e a solenidade de se reconhecer o senhorio de Deus. A primeira vez que a palavra “culto” surge na Versão Almeida Revista e Corrigida é, precisamente, para indicar o conjunto de gestos que Moisés havia determinado para a celebração da Páscoa (Ex.12:25).

b) a dimensão interna – embora seja caracterizado por uma série de ritos, de atos e de gestos, o culto não tem valor algum se toda esta aparência exterior não estiver representando a realidade do coração de quem cultua. O culto deve se iniciar no coração do homem, deve ser fruto de um sincero sentimento de reconhecimento da soberania divina, deve ser fruto de um entendimento totalmente envolvido pela certeza e firmeza de que Deus é o Senhor e deve ser adorado e exaltado. O coração deve estar contrito, ou seja, o homem deve reconhecer que nada é, que depende exclusivamente de Deus e que o Senhor merece o culto, bem como deve haver um compromisso de servir a Deus, de ser-Lhe fiel. Este compromisso interno, requisito indispensável para que haja um verdadeiro culto, é o que Moisés chamou de “circuncisão do coração” (Dt.10:16). Deus será o louvor e o Senhor somente daqueles que resolvam servi-l’O, temê-l’O e obedecer-Lhe (Dt.10:12-21). Não é por outro motivo que Deus abominou toda a exterioridade ritual desacompanhada desta circuncisão de coração (Is.1:11-17, v.g.).

c) a dimensão vertical – o culto é o relacionamento que se estabelece entre o homem e Deus, ou seja, o homem Se apresenta aos pés do Senhor, reconhecendo-Lhe a soberania, a supremacia, elevando-Se da sua pequenez até à grandeza de Deus. Eis o motivo pelo qual o texto sagrado denomina de “elevação” ou “levantamento” ao ato do culto a Deus (Sl.25:1; 86:4; 143:8), como também denomina de “exaltação” ao reconhecimento de Seu senhorio (Sl.99:5,9). O homem Se volta para o patamar de Deus, que lhe é superior, e reconhece esta superioridade. Esta dimensão vertical, a um só tempo, mostra a altura de Deus, ou seja, como Ele Se encontra acima de tudo e de todos, a ponto de ser chamado “Altíssimo” (Sl.7:17; 9:2; 18:13; 78:35), como também a Sua profundidade, o ilimitado conhecimento de que é possuidor e que o homem não pode alcançar (Rm.11:33).

- Por isso, o culto a Deus é algo “sublime”, ou seja, algo “que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual; elevado, augusto”, porque nos leva até o máximo que há no universo, que é a majestade e o senhorio do nosso Deus, a cuja presença somos levados, a Ele que Se encontra em Seu “alto e sublime trono” (Is.6:1), o “trono da graça”, onde podemos nos chegar com confiança em virtude do sacrifício de Jesus por nós (Hb.4:16).
II – A ADORAÇÃO A DEUS

- Vemos, pois, que o culto nada mais é que a expressão de “adoração”. Cultuar é servir, é reconhecer a soberania de Deus, é dar-Lhe a dignidade que só Ele a possui.

- A primeira vez que a palavra “adorar” aparece na Bíblia é em Gn.22:5, quando Abraão avisa seus servos que iria ao monte Moriá, juntamente com Isaque, para adorar e, depois, voltaria, com o seu filho, até o pé do monte, onde os servos deveriam esperar. Entretanto, não é esta a primeira vez que vemos um homem adorando a Deus nas Escrituras, ainda que a palavra não estivesse registrada antes no texto sagrado. Com efeito, o primeiro casal tinha um momento peculiar com Deus na viração do dia (Gn.3:8), um instante em que se dirigiam a Deus e a Ele prestavam contas por tudo que tinham feito durante o dia. Era um momento em que se reconhecia a soberania divina e em que o homem se dedicava a um encontro mais íntimo com o seu Senhor.

- Após a queda do homem, apesar da impossibilidade de uma comunhão com Deus, pois o pecado fez uma divisão entre Deus e o homem (Is.59:2; Ef.2:14), o primeiro casal ensinou a seus filhos que havia a necessidade de se render a Deus um tributo, um louvor, de reconhecer que Deus é o Senhor de todas as coisas e que, portanto, devemos dar a Ele satisfação e Lhe render graças. Por isso, vemos Caim e Abel apresentando ofertas a Deus, numa atitude nítida de adoração a Deus (Gn.4:3,4). Podemos observar nesta passagem algumas características da adoração, no limiar da história humana, a saber:

A adoração é uma prática que acompanha a própria existência do homem – Como vimos, o primeiro casal tinha um instante diário de adoração e, diante desta prática, havia ensinado seus filhos a procederem da mesma maneira. O homem, portanto, foi feito para adorar a Deus.
A adoração é necessária, mas espontânea – A adoração é uma atividade que era considerada necessária por parte da primeira família, tanto que Caim, mesmo não estando interiormente disposto a fazê-lo, não ousou negar-se a oferecer algo a Deus, pois tinha consciência da necessidade deste gesto. Embora necessária, a adoração é espontânea, tem de partir do homem. Não confundamos a adoração com a sujeição, que é o ato pelo qual Deus, por Sua soberania, imporá, num tempo por Ele determinado, Seu senhorio sobre todos os seres, através de Cristo Jesus (I Co.15:27,28; Ef.1:22; Hb.2:8). Isto é sujeição, não adoração.
A adoração consiste de atos externos – A adoração é demonstrada através de gestos concretos, visíveis por todos os demais homens. Caim trouxe uma oferta de vegetais, enquanto Abel sacrificou animais.
A adoração também se faz no interior do homem – Embora se manifeste por atos exteriores, a adoração começa no homem interior, é uma atitude que tem seu nascimento no espírito, que é a parte do homem que mantém o canal com Deus. Por isso, a oferta de Abel foi aceita, mas não a de Caim.
A adoração é acompanhada e observada por Deus – A disposição para a adoração partiu do homem, mas foi atentamente observada pelo Senhor. Quando nos dispomos a adorar a Deus, jamais nos esqueçamos de que o Senhor a tudo está observando e conhece quais são nossas intenções e os nossos atos, tanto que aceitou a oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim.
A adoração permite uma comunicação entre Deus e o homem – Mediante a adoração, Deus aceita, ou não, o gesto do homem, mas é através dela que Deus Se manifesta ao homem, mesmo àquele que não teve aceita a sua oferta, de modo que se estabelece o necessário relacionamento entre Deus e o homem. Através da adoração, o homem tem condições de entender que o pecado é o responsável pela ruptura da comunhão entre o ser humano e o seu Criador
A adoração, para que seja aceita por Deus, exige um ato de fé e uma prévia justificação dos pecados – A Bíblia afirma-nos que Abel era uma pessoa dotada de fé, de de justiça (Mt.23:35; Hb.11:4), enquanto que Caim era do maligno (I Jo.3:12). Reside, então, aí a razão por que a adoração de Abel foi aceita e não a de Caim. Para que possamos adorar a Deus, devemos ter fé, pois sem ela é impossível agradar-Lhe (Hb.11:6). Tendo fé, poderemos ser justificados diante de Deus, passando a ter paz com ele (Rm.5:1) e, deste modo, livres do pecado, poderemos ser aceitáveis diante do Senhor. Como diz conhecido cântico, “em altar quebrado, não se oferece sacrifício a Deus”. (cfr. I Rs.18:30).
- A palavra ” adoração” vem do latim “ad orare”, que significa “para ser feito com a boca”, ou seja, “beijar”. Esta expressão deve ser entendida na cultura da Antiguidade, ainda hoje seguida em alguns segmentos sociais (como a Igreja Romana, por exemplo), em que o beijo é um gesto de reconhecimento da autoridade de alguém. Assim, “adorar” é reconhecer a autoridade de uma pessoa e se inclinar diante dela, curvar-se a seu senhorio e a sua superioridade. Adoraremos a Deus, portanto, quando reconhecermos a Sua autoridade, a Sua supremacia, quando agirmos de forma a mostrarmos às pessoas que é Deus quem manda em nossas vidas. Quando o diabo pediu a Jesus para ser adorado (Mt.4:9), estava, precisamente, pedindo que Jesus reconhecesse uma superioridade do diabo sobre Sua vida, o que, como bem mostrou nosso Senhor, era um rotundo absurdo (Mt.4:10).

- Esta ideia contida na palavra latina, que deu origem a nossa palavra na língua portuguesa, é, precisamente, o mesmo sentido que possui os termos originais hebraico e grego nas Escrituras. Sempre há a ideia de homenagem, de reconhecimento de soberania e supremacia de Deus sobre a vida daquele que está a adorar a Deus. É este, aliás, o sentido que vemos no Sl.2:12, quando o salmista fala “beijai o Filho”.

- Em seguida, vemos que uma das características que temos da descendência piedosa de Sete, estava, precisamente, no fato de que era esta linha de descendentes que adorava a Deus. A Bíblia informa-nos que, após o nascimento de Enos, o filho primogênito de Sete, passou-se a invocar o nome do Senhor (Gn.4:26), ou seja, Deus passou a ser buscado, a ser procurado, a ser reverenciado. O fato de esta linha de descendentes adorar a Deus, buscar reconhecer a sua autoridade, era o grande diferencial entre eles e os descendentes de Caim, a ponto de a Bíblia a eles se referir como sendo os “filhos de Deus” (Gn.6:2). Deus sempre irá manter um relacionamento de pai para filho com aqueles que O adorarem !

- Esta invocação ao nome do Senhor será uma constante na vida dos grandes homens de Deus, dos homens que eram agradáveis a Deus. Noé, Abraão, Isaque e Jacó são exemplos de pessoas que, sendo agradáveis a Deus, têm, em suas vidas, o registro de construção de altares a Deus. Ora, a construção de um altar para que nele se fizessem sacrifícios a Deus, é uma demonstração de que estes homens eram adoradores do Senhor, tanto que a palavra “adorar”, como vimos, é registrada, pela primeira vez nas Escrituras, mencionada pelo próprio Abraão.

- Quando libertou o Seu povo do Egito, Deus instituiu, através da lei, uma série de ritos e cerimônias que deveriam materializar, tornar visível a adoração de Israel a Deus. Entretanto, é bom que deixemos claro, a adoração não se circunscrevia a aspectos meramente externos ou formais. Havia toda uma série de regras e normas para que se trazer ofertas e sacrifícios a Deus, para a realização de festividades ao Senhor, mas Deus sempre tinha um vívido interesse de que o Seu povo não O adorasse apenas formalmente, de modo exterior e superficial, mas, bem ao contrário, que a adoração fosse nascida no espírito de cada israelita. Tanto assim é que, ao contrário do que se costuma dizer (principalmente entre os romanistas), o primeiro mandamento não é adorar a Deus sobre todas as coisas, mas, sim, a amar a Deus sobre todas as coisas (Mt.22:37), pois, para que haja uma verdadeira adoração, como nos mostrou o episódio de Caim e de Abel, é preciso, antes de mais nada, amar a Deus, pois só quando O amamos, fazemos o que Ele nos manda (Jo.15:14). Tanto assim é que Deus exige de Seu povo a obediência (Dt.32:46; Is.58:5,6), não realização de cerimônias ou rituais. O nosso Deus é o mesmo e muitos têm se iludido achando que Deus Se agrada se cumprirmos tão somente os deveres litúrgicos, ou seja, se rendermos a Deus um culto formal em alguma igreja. Deus quer de nós, fundamentalmente, sinceridade e obediência à Sua Palavra, pois o obedecer é melhor do que o sacrificar (I Sm.15:22).

- Na nossa dispensação, não é diferente. Agora que Deus atua livremente, através do Espírito Santo, no interior de cada crente, temos uma adoração independente de locais ou rituais, uma adoração em espírito e em verdade, uma adoração de verdadeiros adoradores (Jo.4:24), que adoram a Deus a todo instante e mediante a sua própria vida, pois é uma adoração que vem do íntimo do ser humano, mediante uma convicção de que, em Cristo, somos filhos de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:1,9,14-17).
III – MOTIVOS PARA ADORAR A DEUS

- Como temos visto, a adoração a Deus é algo que faz parte da própria natureza do ser humano, é uma característica que acompanha o homem desde a sua feitura. O homem deve adorar a Deus, porque Deus o fez e Ele tudo deve a este Deus. A adoração estabelece os parâmetros corretos do relacionamento entre Deus e o homem, exatamente porque é através da adoração que Deus é reconhecido como Senhor e o homem, como Seu servo.

- O primeiro motivo, portanto, para adorarmos a Deus está no fato de que Deus, o Senhor de todas as coisas, é o Criador de tudo, inclusive do próprio homem. Quando adoramos a Deus, reconhecemos que Ele é o nosso Criador e manifestamos tal reconhecimento através da adoração. Todo homem é apresentado a Deus como sendo Sua criatura (Rm.1:20,21) e, através desta apresentação, deve o ser humano adorar a seu Criador. Quando não o faz, desprezando a Deus, a Bíblia ensina-nos que são tais pessoas abandonadas pelo Senhor à sua própria sorte, gerando um sem-número de males e problemas para a humanidade rebelde, que se recusa a adorar o seu Criador (Rm.1:24-32).

- O segundo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos ama, de, apesar de ser o Criador, jamais desampara o homem, mas, muito pelo contrário, o ama e tem prazer em estar na companhia do ser humano. Por amar o homem, Deus enviou Seu Filho para morrer por nós, quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8). Jesus é a prova suprema deste amor, pois morreu por nós na cruz do Calvário (Jo.15:13). Deus nos amou primeiro (I Jo.4:19) e, em gratidão a este tão grande amor, reconhecemos Sua supremacia e procuramos render-Lhe culto, bem como fazemos o que Ele nos manda.

- O terceiro motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos salvou. Deus não somente amou o homem, mas providenciou a sua salvação através da pessoa de Jesus Cristo. Em Cristo, temos novamente acesso a Deus, pois os nossos pecados são perdoados e não há mais separação entre nós e Deus (Rm.5:1; Ef.2:13,14). Assim, tendo em vista a salvação de nossas almas, temos um caminho que nos introduz à presença de Deus, o que torna possível a adoração direta e individual, o que, antes, não era possível ao homem pecador (Hb.10:19-22). Podemos adorar a Deus, sem obstáculo, tendo como único mediador a Cristo Jesus (I Tm.2:5). Graças a salvação, temos uma comunhão eterna com o Senhor, como antes do pecado dos nossos primeiros pais, comunhão esta que perdurará para sempre na nova Jerusalém (Ap.21:2-4).

- O quarto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele precisa ser conhecido dos homens que ainda não O conhecem como Senhor e Salvador de suas vidas. A missão principal dos servos de Deus neste mundo é anunciar a toda criatura o evangelho (Mc.16:15), ou seja, a boa notícia de que o reino de Deus é chegado e que os homens devem nele entrar através do arrependimento de seus pecados (Mc.1:14,15). Deus somente será conhecido dos homens se nós O revelarmos através de nossas vidas e isto só será possível mediante a visibilidade da adoração. Pela adoração, os homens poderão ver Deus em nós (Mt.5:16; At.6:15; II Co.3:18). Como diz conhecido cântico, devemos adorar o Senhor de modo que o “mundo possa ver a glória do Senhor em nossos rostos brilhar.”

- O quinto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que o necessário crescimento espiritual do crente depende da sua vida de adoração. A vida espiritual é uma vida dinâmica, uma vida de contínuo desenvolvimento, pois não é possível haver uma vida estacionária, parada no campo espiritual. Se não avançamos espiritualmente, estaremos, necessariamente, regredindo. Por isso, o escritor da epístola aos Hebreus diz que devemos correr com paciência a carreira que nos está proposta (Hb.12:1) e o apóstolo Paulo afirma, somente ao final de sua vida, que tinha encerrado a sua carreira (II Tm.4:7). Sendo uma vida espiritual algo dinâmico, precisamos estar em contínuo relacionamento com Deus, precisamos orar em todo o tempo, mantermos uma vigilância sem qualquer trégua ou interrupção, o que somente é possível se adorarmos a Deus a todo instante, a todo momento. São estes os adoradores que Deus está buscando (Jo.4:23).

- O sexto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós temos fé em Deus, porque confiamos n’Ele. Fé, como afirmou de modo muito feliz o pastor Ricardo Gondim (Assembleia de Deus Betesda) é o elo que nos une a Deus, a um Deus que nós não vemos, é uma certeza sem provas, é uma convicção sem provas, sem garantias (Aprenda a ter uma grande fé – pregação radiofônica difundida em 25.11.2003). Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6) e, portanto, para que possamos adorar a Deus, render-Lhe culto e louvor, é indispensável que creiamos que Ele existe e é galardoador dos que O buscam. Nunca nos esqueçamos que Jesus, em muitas oportunidades, ao se dirigir às pessoas que O ouviam, fazia alguma observação a respeito da fé que elas possuíam.

- O sétimo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós amamos a Deus. Somente se amarmos a Deus poderemos adorá-l’O. Quando amamos alguém, queremos estar sempre ao seu lado, queremos estar, constantemente, na sua companhia. Ora, se amamos a Deus, desejamos estar sempre ao Seu lado, estar sempre em Sua companhia e não há outra forma de o fazermos senão através de uma contínua adoração a Ele. A igreja anseia pela contínua companhia de seu Noivo, de seu amado: “o meu amado é meu e eu sou dele” (Ct.2:16a).

IV – ASPECTOS DO CULTO CRISTÃO PENTECOSTAL

Como temos visto, a adoração é uma característica que acompanha o ser humano desde o início da sua existência. O homem foi feito para adorar a Deus. Entretanto, com a entrada do pecado no mundo através do primeiro casal, esta característica do homem ficou obscurecida, sensivelmente abalada, a ponto de, já na primeira geração da humanidade após a expulsão do Éden, contemplarmos alguém que não adorou perfeitamente ao Senhor, a saber, Caim.
Também já vimos que, quando Deus Se revelou plenamente ao homem, na pessoa de Jesus Cristo (Hb.1:1-3), pudemos contemplar a própria glória de Deus (Jo.1:14) e, a partir de então, a adoração a Deus atingiu uma dimensão nunca antes vista, pois Deus passou a habitar no próprio homem, através do Espírito Santo (Jo.14:17), tornando a cada homem que aceite a salvação na pessoa de Cristo Jesus um templo do Espírito Santo (I Co.6:19). Desta maneira, como Jesus disse à mulher samaritana, passamos a ser templos ambulantes, a ser adoradores do Pai em espírito e em verdade, não dependendo mais de locais pré-determinados para adoração, mas sendo pedras vivas do edifício de Deus (I Pe.2:5).
A vida de um crente, portanto, a partir da consumação de obra de Cristo, passou a ser um altar, uma vida de adoração. A adoração está presente em todos os atos da vida do crente, tanto que, por verem as obras de um cristão, os homens acabam por glorificar o nome de Deus, algo que, no passado, na antiga aliança, somente ocorria quando o povo se dirigia até o templo de Jerusalém. Devemos ter esta consciência de que a nossa vida é a base de toda a nossa adoração. Adorar a Deus significa servi-l’O a todo instante, a todo momento. Conhecida música popular brasileira afirma que ” qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa” e isto é uma grande realidade. Há pessoas que, dizendo-se cristãs, preocupam-se em ter uma vida de adoração apenas nas quatro paredes do templo de sua igreja local, esquecendo-se totalmente de que devem ser templos do Espírito Santo. A adoração a Deus envolve estes momentos de culto a Deus, de devoção coletiva, como também os instantes de devoção individual, na nossa oração diária, na leitura da Palavra de Deus, mas a devoção é apenas um dos aspectos da adoração cristã, que vai muito além de tudo isto. Seremos verdadeiros adoradores de Deus se pudermos exclamar como Paulo: não sou mais eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim (Gl.2:20).
O primeiro aspecto da adoração cristã, portanto, é a nossa vida prática, são as nossas ações, os nossos gestos no dia-a-dia, no cotidiano. Como temos vivido? Temos realizado boas obras, de modo que as pessoas, ao verem o nosso porte, glorifiquem a Deus que está nos céus, como nos determina Jesus em Mt.5:46? Nossas ações são movidas por amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança, que é o fruto do Espírito Santo (Gl.5:22)? Jesus disse que conheceríamos as pessoas pelos seus frutos, não pelas suas palavras ou aparências (Mt.7:16,20). O servo de Deus é reconhecido não pelo que fala, mas pelo que vive (Mt.7:22-27). Mantemos uma vida de integridade diante de Deus, tendo, em todo o tempo, uma vida de santificação contínua na presença do Senhor? Temos nossas vestes limpas e óleo sobre a nossa cabeça? (Ec.9:8)
O segundo aspecto da adoração cristã envolve a devoção a Deus. Qual é a nossa vida devocional? Temos um relacionamento espiritual com o Senhor? Dedicamos parte do nosso dia para termos um contacto mais intenso e profundo com Deus? Oramos sem cessar?(I Ts.5:17) Jejuamos ?(Mt.6:16-18) Meditamos na Palavra de Deus de dia e de noite?(Sl.1:2).
É importante observar que a devoção a Deus é, em primeiro lugar, uma atividade individual. O salmista diz que é bem-aventurado o homem que meditar na Palavra do Senhor. Jesus afirma que a vida de oração deve ser individual, devemos entrar no nosso aposento e, em segredo, clamarmos a Deus. Ele próprio nos deu este exemplo em mais de uma oportunidade (Mt.14:23; Lc.22:41). Com relação ao jejum, é também, em primeiro lugar, uma ação individual, imperceptível aos olhos dos demais.
Depois de uma atividade individual, a devoção deve ser algo existente no seio da família, o grupo social mais íntimo do homem. Abraão, pelo que podemos observar, era um homem que fazia com que todos os seus servos adorassem ao seu Deus, tendo os mesmos propósitos e os mesmos ideais (Gn.14:14; 22:5). Josué podia dizer que servia com sua casa a Deus, porque tinha uma vida devocional familiar (Js.24:15). A vida ministerial de Timóteo só foi possível graças ao lastro que lhe proporcionou a vida devocional que teve em sua família, ainda que seu pai não fosse judeu (II Tm.3:14,15). Um lar onde não haja um momento devocional, o chamado “culto doméstico”, é, sem dúvida alguma, um alvo fácil e predileto do inimigo de nossas almas. Uma família que adora a Deus é o cordão de três dobras, que não pode ser facilmente desfeito (Ec.4:12). Esta terceira dobra é, precisamente, o relacionamento existente entre os fundadores do lar (o casal) e o Senhor Deus, algo que é construído pela existência de uma adoração a Deus no seio familiar.
Após as dimensões individual e familiar, temos a devoção na igreja local. A igreja, como o próprio nome diz, é a “reunião daqueles que foram tirados para fora”, ou seja, a reunião daqueles que saíram do mundo e do domínio do pecado, que foram resgatados do lamaçal do pecado por Jesus e cujos pés foram colocados na rocha eterna (Sl.40:2). Não é possível uma vida devocional sem que haja a reunião na igreja local. A igreja local, a reunião dos crentes em Cristo, é algo necessário e indispensável para que tenhamos uma vida espiritual completa e de acordo com os padrões bíblicos. A igreja local não é uma criação humana, mas uma determinação divina. Desde o momento que Jesus subiu aos céus, determinou que Seus discípulos ficassem reunidos num mesmo lugar, para que pudessem desfrutar de uma maior intimidade com o Senhor (Lc.24:49; At.2:1). Percebamos que o revestimento do poder, o batismo com o Espírito Santo somente foi recebido por aqueles que se mantiveram reunidos no mesmo lugar, debaixo do governo instituído por Deus, na época, do governo dos apóstolos (At.1:15,26). Foram mais de quinhentos crentes os que ouviram do Senhor a promessa do Espírito (I Co.15:16), mas apenas quase cento e vinte alcançaram a sua realização (At.1:15), porque só estes se mantiveram reunidos em adoração a Deus. O crescimento espiritual do crente depende do convívio na igreja local, da devoção coletiva. Embora seja importante que sejam mantidos grupos de oração, grupos de estudo, nada substitui o modelo bíblico da igreja local. As “células”, tão em voga nos nossos dias, não podem substituir as igrejas locais, pois.
Na devoção coletiva, o povo de Deus, reunido, tem condições de se aperfeiçoar, pois é nesta reunião que os dons espirituais se manifestam (I Co.14:12,19), bem como é na igreja local que se exercem os dons ministeriais (Ef.4:11-16). Também, nas reuniões da igreja local, temos a presença de nosso Senhor, que assim nos prometeu (Mt.18:20). Por isso, é fundamental que estejamos sempre presentes nas reuniões da igreja local, para que desfrutemos da presença do Senhor e possamos completar a nossa adoração ao Senhor.
Na dispensação da graça, como vimos, a adoração é feita em espírito e em verdade, de tal maneira que, com exceção do batismo nas águas e da Ceia do Senhor, não há atos fixos e cerimoniais rígidos na vida devocional coletiva da igreja. Em assim sendo, devemos aceitar uma certa liberdade no modo de adoração ao Senhor, vez que não há padrões rígidos e fixos após a vinda do Senhor a este mundo. Daí porque as Escrituras dizerem que onde há o Espírito de Deus, aí há liberdade (II Co.3:17).
Contudo, a liberdade na adoração a Deus não significa, em absoluto, que não haja quaisquer regras ou parâmetros na devoção coletiva, na liturgia, que é o nome que os teólogos dão a esta ordem de culto a Deus na igreja local. Liberdade, biblicamente falando, é algo que é feito debaixo da submissão da autoridade divina, algo que tem responsabilidade, não uma autonomia diante de Deus, muito menos uma libertinagem. Nosso Deus é um Deus de ordem e de decência e, como tal, a devoção coletiva deve observar estes parâmetros de nosso Senhor ((I Co.14:40).
A Bíblia afirma que, quando a igreja se reúne, deve haver, na devoção coletiva, salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação, tudo com o propósito de edificação (I Co.14:20). Vejamos, pois, cada um destes momentos que deve haver na devoção coletiva a Deus.
O primeiro ponto que deve existir numa vida devocional coletiva é o salmo, ou seja, o louvor. Quando Paulo se refere a salmo, está se referindo ao louvor, pois o salmo era a forma pela qual os judeus louvavam ao Senhor, já que os Salmos eram o hinário oficial de Israel. Desde os tempos do Antigo Testamento, nas cerimônias e celebrações coletivas de adoração a Deus, estava presente um momento de louvor e de cântico. As Escrituras ensinam-nos, em diversas partes, que tudo quanto tem fôlego deve louvar ao Senhor (Sl.150:6). O ministério do louvor é o único ministério que perdurará após a glorificação dos salvos, pois os anjos não cessam de louvar a Deus e estaremos com o Senhor para sempre, louvando-o. Deste modo, é indispensável que a liturgia incorpore momentos de louvor na vida devocional coletiva.
Entretanto, o louvor, como bem demonstra a Bíblia, é um sacrifício pacífico que se faz ao Senhor nesta dispensação (Hb.13:15). Sendo assim, há critérios que devem ser observados quanto ao louvor que deve ser entoado pela igreja ou na igreja por ocasião de nossas reuniões devocionais. O louvor deve ser o fruto dos lábios que confessam o nome do Senhor (Hb.13:15), ou seja, o louvor é o resultado de uma vida de confissão a Deus, de uma vida de arrependimento dos pecados, de uma vida diferente daquela que é vivida pelos homens que não têm a salvação.
Sendo assim, o louvor não pode ser igual nem tampouco semelhante à música que é seguida e observada pelo mundo sem Deus e sem salvação. O louvor a ser entoado deve ter respaldo bíblico, não só com relação à letra, mas, e principalmente, com respeito à melodia e harmonia. Devemos fazer distinção entre o santo e o profano (Ez.22:26;44:23), pois este é um dever de todo sacerdote (e cada um de nós é um sacerdote diante de Deus – I Pe.2:9). O louvor é fruto daqueles que demonstram não estar conformados com o mundo (Rm.12:2). Como, então, poderemos demonstrar que estamos adorando a Deus, usando o fermento velho? (I Co.5:7,8). É lamentável que estejamos numa época em que a música profana tem invadido completamente as nossas igrejas e ocupado o lugar dos nossos hinos sacros. A Bíblia fala que o verdadeiro culto devocional coletivo a Deus se faz com salmos, ou seja, com hinos inspirados, santos e distintos das demais músicas, das músicas mundanas e profanas.
É interessante, também, observar que, embora o salmo seja uma parte importante e indispensável da devoção coletiva, não é a que deve ocupar a maior parte do tempo da reunião. A Bíblia mostra-nos que Jesus dedicou apenas uma pequena parte do culto de instituição da ceia para o louvor (Mt.26:30), hino, aliás, que, entendem muitos estudiosos da Bíblia Sagrada, seja o salmo 116 (ou seja, Jesus cantou um cântico selecionado, um cântico sacro, um cântico do hinário oficial de Israel). O louvor é importante, mas é apenas um instante de preparação para o momento principal da reunião, que é a exposição da Palavra de Deus. Hoje em dia, infelizmente, devido ao grande número de grupos musicais na igreja, sem se falar naqueles que preferem cantar individualmente, não raras vezes, três quartos do tempo da reunião são dedicados ao louvor, o que tem causado grande prejuízo espiritual ao povo de Deus. O alimento do homem é a Palavra de Deus e o excesso de louvores tem contribuído para o raquitismo espiritual da igreja nos nossos dias. Precisamos voltar aos tempos passados, onde se ouviam até três mensagens numa reunião.
O segundo ponto que deve estar presente numa reunião é a oraçãoque, no texto mencionado por Paulo, é denominada de revelação, de língua e de interpretação. É indispensável que a igreja, reunida, busque a Deus em oração, para que tenhamos uma verdadeira adoração e a presença de Deus se faça sentir no meio dos crentes. Cada crente deve, assim que chegar à igreja, buscar a face do Senhor, orar para que o nome do Senhor seja glorificado na reunião. Nos dias antigos (e, atualmente, em outras denominações, que são tão criticadas por pontos secundários, mas que, neste aspecto, são muito mais reverentes e superiores a nós), o povo de Deus, ao chegar à casa do Senhor, dobrava seus joelhos e, numa atitude de reverência, seguindo o que determina a Bíblia Sagrada (Ec.5:1), orava ao Senhor até o início da reunião. Hoje em dia, estarrecidos, observamos que os crentes aproveitam este período para falar da vida alheia, rever os amigos, marcar encontros, entabular negócios e tantas outras coisas, menos para buscar a Deus. Acham que o culto começa no momento da oração inicial, quando, na verdade, não vimos à igreja para assistir a um culto, mas para prestarmos o nosso culto a Deus, juntamente com os demais cristãos, naquele local. O culto na igreja começa quando ali chegamos e devemos aproveitar o nosso tempo para orar e buscar a presença de Deus. As reuniões não têm sido mais proveitosas espiritualmente para os crentes exatamente porque não há este propósito de orarmos ao Senhor desde o instante de nossa chegada à igreja local, comportamento que é fundamental para aqueles que dizem crer na realidade atual do poder de Deus por meios sobrenaturais, como são os cristãos pentecostais.
Além deste momento de oração antes do início da devoção coletiva, deve haver alguns momentos de oração durante a reunião, onde são publicadas as necessidades dos santos à igreja local, para um intercessão, bem assim comunicados os agradecimentos pelas bênçãos recebidas. Também este é o momento adequado para que se proceda a eventuais unções com óleo, que devem ser feitas exclusivamente sobre membros da igreja enfermos, que é a hipótese bíblica para unção na nova aliança (Tg.5:14). Também, neste momento, deve-se abrir oportunidade aos irmãos que queiram testemunhar das maravilhas que o Senhor tem feito em suas vidas. Ultimamente, os testemunhos têm sido substituídos por comunicados de agradecimento, prática que não é salutar, pois o testemunho edifica a igreja e é importante ouvirmos o seu relato por parte daquele que foi alvo da misericórdia divina e não um simples relato frio transmitido por alguém num escrito.
A parte mais importante da devoção coletiva, entretanto, é a que diz respeito à exposição da Palavra de Deus. A explanação da Palavra é uma necessidade imensa do povo de Deus e um dos principais motivos para a sua reunião coletiva. Se existe a igreja local, se existe este grupo com o devido governo constituído pelo Senhor, é, precisamente, para que haja o ensino da Palavra de Deus, tarefa primordial do ministério na casa do Senhor (cfr. At.6:2,4). Esta é a parte referente à doutrina mencionada por Paulo em I Co.14:26, o que deve ser gotejado incessantemente sobre a igreja (Dt.32:2). Doutrina é a exposição da Palavra do Senhor, do evangelho, dos ensinos de Deus para o homem, não se confundindo com usos e costumes. Eis a razão por que é requisito indispensável para a separação de alguém para o ministério a sua capacidade de ensinar as Escrituras (I Tm.3:2). Nossas reuniões devocionais devem dar prioridade à exposição da Palavra do Senhor, reservando-se um tempo suficiente para sua exposição, no mínimo quarenta minutos. Antes do término da reunião, deve haver uma mensagem final de convite aos pecadores para que aceitem a Cristo como Salvador, o nosso conhecido “apelo”, que nunca deve faltar numa reunião devocional coletiva da igreja local, pois nosso objetivo primordial é ganhar almas para Jesus. Infelizmente, muitos, por incrível que pareça, têm eliminado esta parte do culto, fazendo com que tenhamos sérias dúvidas de que tenham, ainda, consciência de que uma reunião devocional não é um mero ajuntamento social.
Também faz parte da devoção coletiva a parte referente à contribuição financeira para o sustento da obra do Senhor. As ofertas e os dízimos são parte de nossa devoção a Deus, de nosso compromisso com a pregação do Evangelho são parte integrante e indissociável da nossa adoração. Não obstante, temos aqui apenas uma parte do culto devocional, que deve ser conduzida com moderação e devida explicação de seus objetivos aos ouvintes da Palavra de Deus, buscando-se, diante do mercantilismo reinante no mundo religioso dos nossos dias, haver um devido esclarecimento e, inclusive, relevando-se que se trata de uma obrigação dos crentes, não extensiva àqueles que estejam visitando a comunidade.
A devoção coletiva, seguindo esta ordem, será, certamente, agradável ao Senhor, que Se fará presente e proporcionará não somente o aperfeiçoamento espiritual dos crentes reunidos, mas também ocasionará a salvação de vidas preciosas para o reino de Deus.
V – A INVERSÃO DE VALORES QUE AFETA O CULTO CRISTÃO PENTECOSTAL NA ATUALIDADE

- Temos visto qual é o culto que agrada a Deus, qual o culto que é prescrito pelo Senhor na Sua Palavra e que o homem, como ser inferior e que reconhece a supremacia de Deus, deve agir neste reconhecimento da dignidade divina.

- No entanto, na atualidade, temos visto uma “inversão de valores”, uma indevida alteração que se tem estabelecido no culto cristão pentecostal que, por isso mesmo, deixa de ser “cristão pentecostal”, para ser um culto completamente divorciado da Palavra, um “culto estranho” que é abominado por Deus.

- Ao analisarmos o contido nas Escrituras a respeito do culto, como visto supra, percebemos que há uma inversão total de valores trazida pelo inimigo de nossas almas, o diabo, a antiga serpente, que tem enganado a muitos, assim como fez a Eva, apartando-os da simplicidade que há em Cristo Jesus (II Co.11:3).
- A primeira inversão é o uso da emoção como instrumento para nos chegarmos a Deus. Quando nos chegamos a Deus, somos convencidos de nossos pecados pelo Espírito Santo (Jo.16:8) e, então, nossa vida e emoções são afetadas: choramos, rimos etc. O culto a Deus não pode ser baseado na emoção, mas a emoção deve ser resultado do verdadeiro culto ao Senhor. Por isso, muitos crentes que choram e se emocionam aos domingos, não passam pelo “teste da segunda-feira”, quando voltam ao “normal” de suas vidas de pecado e fracasso.

OBS: “…É claro que as emoções estarão presentes no ato do culto, pois, afinal, o ser todo e todo o ser que respira deve louvar a Deus. Mas transformar o culto numa catarse é extrapolar o seu real significado. Se a pessoa precisa de atenção especial na busca de soluções para sua vida, deve buscar um aconselhamento, não o culto….” (ENSINAMENTOS CRISTÃOS: Culto ou entretenimento? Disponível em:http://estudoscristaos.com/2008/07/ensinamentos-cristos-culto-ou.htmlAcesso em 05 br. 2011)

- Muitos confundem este emocionalismo com pentecostalismo. Os crentes pentecostais creem na atuação direta do Espírito Santo, mas isto não significa em absoluto que sejamos emocionais. O Espírito Santo trata de coisas “espirituais” (I Co.2:13) e o “espiritual”, embora traga emoções, não se limita a elas. Por isso, o apóstolo Paulo nos mostra que o verdadeiro e genuíno culto é “racional” (Rm.12:1). Provocar emoções no povo, levá-lo a um “êxtase” puramente psicológico, usando-se de estratégias aprendidas na neurolinguística ou nas artes cênicas são mecanismos abomináveis ao Senhor, são “fraudes espirituais”, que devem ser evitadas e abandonadas num culto verdadeiramente pentecostal.

OBS: Apesar de o escritor ser adventista do sétimo dia, suas afirmações, por demais oportunas e bíblicas, merecem aqui ser registradas: “…temos nos esquecido de que a forma de adorar a Deus tem que ver com o entendimento que temos de Sua pessoa. Uma adoração emocional não reflete a santidade do Deus da Bíblia. Não quero dizer que a adoração tenha que ser ‘fria’, apenas racional; mas tem de haver respeito à Pessoa Divina. Sairmos emocionados de um show não implica em um encontro real com Deus. Nossas emoções nunca foram base segura para medir nossa comunhão com Deus (Jeremias 17:3, I João 3:20)….” (REIS, Douglas. Shows cristãos:culto, entretenimento ou mundanismo? Disponível em:http://www.musicaeadoracao.com.br/artigos/meio/shows_cristaos.htmAcesso em 05 abr. 2011).

- A segunda inversão é a troca do avivamento pelo movimento. Muitos acham que, para terem um milagre em suas vidas, devem correr atrás de movimentos. Entretanto, na Bíblia está escrito que os sinais seguiam aos que criam e não que estes se tornavam crentes para ter os milagres (Mc.16:17). Antes de mais nada, criam em Jesus, que Este é o Filho de Deus e a única saída para terem seus pecados perdoados (At.4:12). É coisa muito diferente ser convencido intelectualmente de ser convencido pelo Espírito. O convencimento intelectual é “fogo de palha”, que logo se apaga e que tem de ser sempre reacendido pelas pregações motivacionais, ditas equivocadamente “avivalistas”. Vemos isto em todas estas estratégias criadas pelos homens e que estão a infestar as igrejas na atualidade, estratégias estas, porém, que, como todo fermento(I Co.5:7,8), leveda a massa mas logo murcha, pois o motivacional da estratégia humana logo se esvai.

- O convencimento pelo Espírito Santo, porém, arde no coração, na alma, tornando-nos perdidos pecadores que precisam de arrependimento, afetando inexoravelmente e sem retorno o nosso centro de decisões, transformando nossas atitudes em uma busca de novidade de vida e que nos impulsiona a propagarmos o nosso testemunho ao mundo, incendiando-o. É o que o oleiro faz, enfia a mão no meio do barro e o molda de dentro para fora. Esta aparentemente pequena, mas muito sutil diferença está sendo usada pelo inimigo e é a responsável pela difusão das heresias e pela troca das coisas de cima pelas coisas desta vida, em total oposição ao que nos ensina a Bíblia Sagrada (Mt.6:33; Cl.3:1-3).

- A terceira inversão de valor é a mudança de comportamento frente ao mundo. Em vez de querermos mudar o mundo, e o nosso culto a Deus deve ser a mais eloquente manifestação de diferença em relação ao mundo, passamos a querer nos parecer com ele para “ganhá-lo”. Para o ímpio, não há regras, pois ele nada investiga (Sl.10:4). Para ele, que não obedece a Deus, que se rebelou contra o Senhor, “vale tudo”.

- Muitos, inadvertidamente, têm transformado seus cultos em repetições de atitudes praticadas pelos ímpios, por pessoas que não têm qualquer compromisso com o Senhor. Como podemos oferecer a Deus coisas imundas? Como podemos nos apresentar ao Senhor com atos, gestos e atitudes que foram criados e instituídos por pessoas que se rebelaram contra Deus? Será que posso oferecer a Deus uma música, uma canção que não foi criada para o Seu louvor? Deus é obrigado a aceitar tudo aquilo que Lhe ofereço como sacrifício?

- Sempre houve regras para os sacrifícios e, como vimos supra, Deus não aceita sacrifícios que não forem feitos segundo as Suas exigências (Gn.4:5). Por que, então, haveria de receber este culto mundano que muitos Lhe têm apresentado? Se o culto é o reconhecimento da soberania de Deus, como prestar um culto a Deus não reconhecendo a Sua autoridade para determinar como se deve cultuar?

- Culto é a “prática de atos sagrados”. Como, então, seria possível cultuar a Deus sem se separar o sagrado do que não é sagrado, ou seja, do que é profano? Sagrado é o que é santo, separado, consagrado, dedicado, pertencente ao Templo. Profano, por sua vez, é o que não é sagrado, o que é secular, mundano. Profanar é tirar do Templo aquilo que é santo para outro uso que não ao culto ou, então, levar para o Templo o que não é santo, oferecer o mundano a Deus. Profanação é não fazer diferença entre o santo e o profano! Deus não aceita nada impuro!

- O Senhor diz que é dever do sacerdote distinguir o santo do profano (Lv.10:10; Ez.42:20; 44:23) e repreende todos aqueles que não diferem entre o que é santo e o que é profano (Ez.22:26; Hb.10:29; 12:16). Ora, os cristãos são sacerdotes (Ap.1:6) e seus corpos, templo do Espírito Santo (I Co.6:19), como, pois, poderiam fazer um culto ao Senhor com coisas profanas?

OBS: “…E se a parceria entre músicos seculares não evidencia a figura de Jesus, quanto menos a execução de músicas seculares por grupos religiosos. Não se poderia esperar uma joia espiritual de um concerto religioso no qual se executa músicas de grupos dedicados ao entretenimento vazio e corrompido da música secular. Como separar o sagrado do profano se intencionalmente se misturam esses elementos explosivos?…(REIS, Douglas. Shows cristãos: culto, entretenimento ou mundanismo? Disponível em:http://www.musicaeadoracao.com.br/artigos/meio/shows_cristaos.htmAcesso em 05 abr. 2011).

- O culto que se exige de cada cristão é um sacrifício santo, vivo e agradável a Deus (Rm.12:1). Como oferecer sacrifício santo com coisas profanas? Como oferecer um sacrifício vivo com coisas advindas de um mundo que está morto em seus pecados (Ef.2:1)? Como oferecer sacrifício agradável a Deus não atendendo à Sua vontade?

- Deus não só recusa culto que não seja feito conforme a Sua vontade, que não atente para a santidade, como também, mesmo após aceitar o culto, faz passá-lo pelo “teste do fogo”, como nos adverte o apóstolo Paulo (I Co.3:10-15). Como estamos construindo nossa casa espiritual, lembrando que “culto” é, entre outras coisas, “habitação”, “moradia”?
- O resultado destas inversões de valores é catastrófico, porquanto Deus deixa de ser o alvo destas reuniões, sendo trocado pelo homem. Efetivamente, quando a emoção passa a ser o instrumento usado para se tentar chegar a Deus, não se chega a Deus, mas, sim, tão somente à carne. A reunião perde toda a sua espiritualidade, passa a ser um mero extravasar da carne e o culto a Deus é substituído pelos folguedos. Reedita-se, assim, a triste história do bezerro de ouro (Ex.32:1-6).

- No episódio do bezerro de ouro, o povo, sentindo solidão e desamparo, procurou um entretenimento, uma forma emocional para superar esta sua “crise”. Substituiu Deus por um bezerro, animal que evocava o deus-touro dos egípcios (Ex.32:4). Feita a substituição, foi convocada uma festa, onde não faltaram ingredientes para satisfazer a carne (Ex.32:6).

- Como um abismo chama outro abismo (Sl.42:7), a busca da emoção, que traz a carnalidade, também gera a troca do avivamento pelo movimento. Em vez de um homem interior que tem prazer na lei de Deus (Rm.7:22), passa-se a ter um homem insaciável, que busca tão somente o prazer carnal (II Pe.2:13). Há uma total separação de Deus, o que significa morte, visto que se passa a andar segundo a carne e não segundo o Espírito (Rm.8:5-8).

- Por fim, como não há mais vida, quando não se cultua mais a Deus e sim aos próprios desejos pecaminosos, não há como se fugir à terceira inversão: há uma equiparação com o mundo, passa-se a parecer com ele e, então, ante esta inevitabilidade, cria-se a “justificativa” de “se parecer com o mundo para ganhá-lo”, quando, na verdade, já estão todos perdidos junto com o mundo. Afinal de contas, querer parecer com o mundo é amá-lo e quem ama o mundo, o amor do Pai não está nele (I Jo.2:15).

- Quando Moisés voltou até o arraial, encontrou uma verdadeira festa pagã, que nada tinha a dever dos festivais de cantos e danças dos povos idólatras (Ex.32:18,19,23). É o que lamentavelmente se tem visto, com cada vez maior frequência, nos “cultos” de muitos lugares, que são cada vez mais “shows”, “baladas” e outras espécies de reuniões típicas dos que não servem a Deus.

OBS: Recentemente uma determinada igreja passou a exibir, em seu canal de televisão, um culto ao vivo, dizendo não saber se se trata de um culto ou de um programa de televisão. A que ponto chegamos!

- A propósito, a palavra “show” já é utilizada para designar algumas reuniões de crentes, os chamados “shows gospel”. Efetivamente, estas reuniões realmente não são cultos, são “shows” mesmo, pois ali se tem como objetivo a exibição de “artistas” e não a “reverência respeitosa a Deus”. Muitos cultos, a propósito, não passam hoje apenas de meras “exibições” dos “artistas de Jesus”. Por isso, muitos que não são chamados para se “exibir” nas igrejas locais, notadamente nos domingos, saem bravos, irritados, achando que “perderam tempo”, porque não vieram para cultuar a Deus, mas tão somente para se exibir. Que não sejamos dos tais!

OBS: Como afirma querido irmão que conosco participar dos estudos de professores e amigos da EBD na igreja em que servimos, saem das reuniões “fazendo beiçinho”, mas só querem aparecer, não cultuar a Deus.

- A propósito destas exibições, reproduzimos aqui um correto pensamento do pastor adventista Douglas Reis: “…O maior perigo, no entanto, é que o show se centralize na pessoa do artista, ou em algum traço de sua pessoa, como carisma, técnica vocal, etc. Isto significa que o louvor está sendo dado a homens, e Deus vem a ser roubado de Sua glória. O Senhor não divide o palco com ninguém – ou Lhe damos todo o louvor ou Ele fica sem louvor nenhum!…” (REIS, Douglas. Shows cristãos: culto, entretenimento ou mundanismo? Disponível em:http://www.musicaeadoracao.com.br/artigos/meio/shows_cristaos.htmAcesso em 05 abr. 2011).

- Em artigo publicado no jornal “O Mensageiro da Paz”, de agosto de 2006, o pastor Martim Alves da Silva, das Assembleias de Deus de Mossoró/RN, bem distinguiu entre culto e “show”, “in verbis”: “…No culto, a pessoa mais importante é Deus; no show, é o artista. No culto a Deus ninguém paga, no show a entrada é mediante pagamento. No culto, Deus está presente; no show, Deus Se faz ausente, pois Sua glória não dá a outrem. No culto, o ministro de Deus soleniza as celebrações; no show, o apresentador é condescendente à desenfreada desordem. No culto, o povo glorifica a Deus; no show, só gritos e assobios para o artista. No culto, o povo reverencia a Deus em adoração; no show, só há bagunça incontrolável….” (Show não é culto apud ZIBORDI, Ciro Sanches. Há diferença entre culto e show? Estou confuso… Disponível em:http://macfly.multiply.com/journal/item/149Acesso em 05 abr. 2011).

- Por isso, inclusive, hoje há muito mais “entretenimento” do que “culto” em muitos lugares. “Entretenimento”, diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é o “ato de distrair, divertir”. Muitos hoje transformaram o culto em um momento de descontração, de distração, de divertimento. Ora, como já dizia o príncipe dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), quem deseja entretenimento é “bode”, não a “ovelha” (Apascentando ovelhas ou entretendo bodes. Trad. de Walter Andrade Campelo. Disponível em:http://www.luz.eti.br/spurgeon_feeding_pt.htmlAcesso em 05 abr. 2011). Como afirma o pregador batista Tiago Santos, “…Mark Dever [pastor batista da Igreja Batista do Capitólio em Washington, capital dos EUA - observação nossa] diz que se atrairmos alguém pelo entretenimento, é para o entretenimento que a atraímos. Essa pessoa não estará interessada no evangelho verdadeiro. Por outro lado se atrairmos alguém pela verdadeira mensagem do evangelho, é para o evangelho que estamos ganhando essa pessoa….” (FELIX, Nicolas. O que é Igreja? Culto ou entretenimento. Disponível em:http://batistadagraca.net/jovens/2011/03/14/o-que-e-igreja-culto-ou-entretenimento/Acesso em 05 abr. 2011).

- O apóstolo Paulo, quando nos falou de culto, disse que o seu ofertante não pode se conformar com o mundo, mas que deveria ser transformado com a renovação do seu entendimento para que possa experimentar a vontade de Deus (Rm.12:2). Como, então, falarmos de genuíno culto a Deus com a mesma forma do mundo, adotando a mesma maneira de ser e de viver de quem não é salvo?

- A quarta inversão é a consideração do culto não como uma oferta a Deus, como nos mostra o apóstolo Paulo em Rm.12:1, mas, sim, como uma oportunidade de “recepção de bênçãos”. Muitos são os que, hoje em dia, vão aos cultos para “receber bênçãos”. Aliás, não são poucos os “pregadores” que insistem nesta mentalidade, quando, aos gritos, conclamam o povo a “receber bênçãos de Deus”, com seus famosos “Receba, receba, receba”.

- No entanto, as Escrituras mostram-nos que o culto é uma oferta a Deus, uma apresentação dos nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm.12:1), chamado de “culto racional”. Quando Pedro e João iam para o culto de oração no alpendre de Salomão, a caminho do templo, na porta Formosa, encontram o coxo e disseram que “tinham algo” para oferecer ao coxo: a cura divina em nome de Jesus (At.3:1-6). Os crentes hodiernos não poderiam realizar este milagre, pois, antes do culto, nada têm, precisam “receber” no culto…

- O apóstolo Paulo é claro, também, ao dizer que, quando vamos ao culto, já temos de ter conosco salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação (I Co.14:26). Temos de ir ao culto tendo algo a oferecer a Deus, não para recebermos de Deus. É evidente que o Senhor quer nos abençoar e que somos abençoados no culto, mas a bênção divina é uma consequência de termos, antes, apresentado o devido culto a Deus, de Lhe termos apresentado um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.

- Noé foi abençoado por Deus e, através dele toda a humanidade, depois que seu sacrifício chegou diante do Senhor como cheiro suave (Gn.8:21-9:1). Não podemos inverter esta ordem, pois nós é que servimos a Deus e não Ele a nós.

- Que valores temos cultivado? Qual tem sido o nosso culto? A quem estamos a cultuar? Pensemos nisso.

Caramuru Afonso Francisco e Sérgio Paulo Gomes de Abreu (in memoriam)

Fonte: PortalEBD

O genuíno culto pentecostal – 3

Posted: 19 May 2011 07:44 AM PDT




por Altair Germano

O culto é uma das mais belas e antigas formas do homem expressar sua devoção, gratidão e adoração a Deus.

A Bíblia é o maior manual litúrgico em circulação. É nela que encontramos a principal fundamentação para a prática do culto cristão.A falta de conhecimento desta fundamentação, aliada ao descaso ou desinteresse quanto ao desenvolvimento histórico do culto, tem conduzido cristãos e igrejas, a se privarem de todas as bênçãos e privilégios deste tão solene ato, como também, ao desvio da simplicidade, verdade e espiritualidade, que sempre marcaram esta prática cristã. Em muitos lugares, a formalidade, a desordem e a irreverência, têm transformado o culto num mero encontro de pessoas, quando deveria, antes, ser um encontro de pessoas com Deus.

O CONCEITO DE CULTO CRISTÃO

Conceituar “culto cristão” será o primeiro passo em direção ao presente estudo. Vários pesquisadores, estudiosos e teólogos já propuseram as suas definições. Observemos algumas delas: “[...] é o encontro da comunidade com Deus” (KIRT, 1993, p. 12 apud FREDERICO, 2005, p. 20)

A definição acima implica que Deus é quem convida o seu povo a se reunir em dia, horário e local determinado. Dessa forma, Frederico (idem) declara que “se é Ele quem convida, temos certeza de que Ele não faltará a este encontro: ‘onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estarei (Mt 18.20)’”.

Por conseguinte, ainda segundo a autora, o culto não é:

- Uma reunião qualquer, como a de uma associação de moradores de um bairro, em que as pessoas interessadas discutem os problemas comuns ou planejam diversas atividades para o bem do grupo ou da organização;

- Um show, como se vê na televisão, com atrações variadas, apresentações pessoais e coletivas, com um apresentador famoso tentando ganhar pontos no Ibope através de seu desempenho, diante de seus espectadores passivos e satisfeitos com a programação;

- Um momento para se prestar homenagens a personalidades, nem para comemorar e celebrar qualquer data comemorativa do calendário secular;

- Uma obrigação semanal, onde a ausência no mesmo pudesse implicar em algum tipo de punição ou cobrança;

- Uma reunião secreta, repleta de mistérios, envolta em ritos não-compreensíveis, embora possa haver cerimônias que não sejam entendidas por aqueles que não frequentam com regularidade a comunidade cristã local.

Outras definições de culto podem ser encontradas em White (2005, p. 14-24). Em sua intenção de examinar as várias maneiras como os pensadores cristãos falam sobre culto, em seu estudo comparativo, entendeu que a melhor maneira de se entender o significado de um termo é observando-o em seu uso cotidiano. Dessa forma, foram observados os posicionamentos de pensadores protestantes, ortodoxos e católicos. Para White, as variações do uso do termo não se excluem, antes, ao se sobreporem, cada uso acaba acrescentando novas percepções e dimensões, se complementando.

Escrevendo a partir da tradição metodista, o professor Paul W. Hoon contribuiu de maneira bastante significativa através de seu livro The Integrity of Worship, publicado em 1971, afirmando que o culto cristão se relaciona diretamente com os eventos da história da salvação. Cada evento nesse culto está ligado ao tempo e a história enquanto cria pontes para eles e os traz para o nosso atual contexto. O culto seria um lugar onde Deus age para dar sua vida ao ser humano e para conduzir o ser humano a participar dessa vida. Haveria certa interação entre Deus e o homem, onde o primeiro comunicaria seu próprio ser ao ser humano, tendo por parte do segundo uma atitude responsiva. Entre o homem e Deus estaria Jesus Cristo, a auto-revelação do Pai e aquele por quem o Pai recebe nossas emoções, palavras e ações.

Peter Brunner (apud WHITE, p.15-17), teólogo luterano, em sua obra Worship in the Name of Jesus, usa o termo alemão Gottesdient, que tem conotação com o serviço de Deus aos seres humanos, e com o serviço dos seres humanos a Deus. Brunner cita Lutero, que acerca do culto disse: “que nele nenhuma outra coisa aconteça exceto que nosso amado Senhor ele próprio fale a nós por meio de sua santa palavra e que nós, por outro lado, falemos com ele por meio de oração e canto de louvor”. Para Brunner há uma dualidade no culto encoberta por um foco único, que é a ação divina em se nos doar quanto em instigar nossa resposta às suas dádivas graciosas.

Evelyn Underhill, anglo-católica, em seu clássico estudo Worship em 1936, afirmou que “o culto, em todos os seus graus e tipos, é a resposta da criatura ao Eterno.” Outras características do culto cristão seriam o seu condicionamento pela crença cristã, pela crença sobre a natureza e a ação de Deus resumidas no dogma da trindade e da encarnação e em seu caráter social e orgânico, o que faz do culto um empreendimento coletivo, e nunca solitário.

O professor ortodoxo Georg Florvsky, enfatizou que “O culto cristão é a resposta dos seres humanos ao chamado divino, aos prodígios de Deus, culminando no ato redentor de Cristo”. Para ele, como cristão precisamos da comunidade, visto que a existência cristã é essencialmente comunitária. O culto seria uma das manifestações da vida cristã comunitária, onde em resposta à obra de Deus passada e presente, manifestações de louvor e adoração sinalizam um grato reconhecimento pelo grande amor e pela bondade redentora de Deus.

As idéias de Florvsky foram reforçadas por um outro teólogo ortodoxo, Nikos A. Nissiotis, através da declaração de que “O culto não é primordialmente iniciativa do ser humano, mas ato redentor de Deus em Cristo por meio do seu Espírito”.

O “culto cristão”, sob uma perspectiva pentecostal, poderia ser definido como: O ajuntamento solene da Igreja, com fins de adorar a Deus mediante a liturgia, associada aos elementos comuns de cada cultura popular ou denominacional, aberto a livre manifestação da ação e dos dons do Espírito com decência e ordem (1 Co 14.26, 40).

OS TERMOS UTILIZADOS PARA DEFINIR “CULTO”

Na Bíblia encontramos alguns termos usados para definir “culto”. São eles:

- ‘abida – Termo hebraico que originalmente significava trabalho, ritual, adoração. Os usos dessa palavra em Esdras se referem ao trabalho feito na reconstrução do templo em Jerusalém (Ed 4.24; 5.8; 6.7),bem como as atividades em geral de sacerdotes e levitas, as quais, em associação com o ritual e a adoração espiritual (Ed 6.18), constituem serviço a Deus (Ex 3.12; Dt 6.13; 11.13; Sl 100.2).

- Latreia – Substantivo grego, usado nas diversas situações de um trabalho ou serviço assalariado. Posteriormente foi incorporado à prática cristã de cultuar, ou seja, prestar um serviço a Deus, adorá-lo (Mt 4.10; Rm 12.1).

- Proskunein – Termo grego que no AT significava “curvar-se”, tanto para homenagear homens importantes e autoridades (Gn 27.29; 37.7-10; I Sm 25.23), como para adorar a Deus (Gn 24.52; 2 Cr 7.3; Sl 95.6). No NT denota exclusivamente a adoração que se dirige a Deus (At 10.15-26; Ap 19.10; 22.8-9).

- Leitourgia – A palavra é originária do grego. Literalmente, significa serviço público (leitos=público, Ergon=trabalho). Conforme Andrade (Manual da Harpa Cristã, p. 19)

Na Antiga Grécia, o termo era usado para designar uma função administrativa num órgão governamental. Desde sua origem, por conseguinte, a liturgia tem uma forte conotação com o serviço que os súditos devem prestar ao rei. O termo passou, com o tempo, a designar o culto público e oficial da Igreja Cristã. Hoje, é definido como a forma pela qual um ato de adoração é conduzido.

Esses termos nos ajudam a perceber a natureza e o caráter do culto cristão.

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA DO CULTO NO ANTIGO TESTAMENTO

É no Antigo Testamento que encontramos as primeiras referências ao culto:

- O Culto na Família (Gn 4.1-5; 26; 8.18-21; 13.1-4; Ex 12.1-21; Dt 6.4-9; 11.18-21). As primeiras narrativas bíblicas que envolvem o culto se dão na família. Em Gênesis 4.3-5 lemos sobre o culto na dimensão pessoal, onde o que cultua, aquele que é cultuado e o elemento oferta estão presentes. Este primeiro episódio nos ensina um princípio que vai nortear todo o culto no Antigo Testamento, e que servirá de base para o culto no Novo Testamento: A aceitação do culto depende primeiramente daquilo que o Senhor percebe na vida (interior e exterior) daqueles que prestam o culto (Is 1.10-17). Da vida pessoal, o culto no Antigo Testamento avança para a vida familiar (Ex 12.1-21), comunitária e nacional. A rigidez cerimonial é marcante a partir deste período.
- O Culto no Tabernáculo (Ex 25-40). Com a construção do tabernáculo, em pleno deserto, Deus começa a preparar o povo para um culto no nível comunitário, com elementos e uma liturgia marcada por muitos elementos simbólicos. Além dos cultuadores, do cultuado e das ofertas, temos agora presente um espaço litúrgico definido, e os ministros/sacerdotes com uma função mediadora. No Pentateuco vamos encontrar também o estabelecimento de várias festas cerimoniais, que possuem um papel comemorativo e pedagógico, visto que lembram eventos passados e que servem de base para a exortação das novas gerações (Lv 23).

- O Culto no Templo (2Sm 7.1-17; I Rs 6-8). Já estabelecidos na terra prometida, é sobre o reinado de Davi que a construção do templo é idealizada (1 Cr 22.6-19). Com o templo, um sistema de organização é estabelecido para que em nada o culto seja prejudicado. Neste sistema estão presentes os levitas (1 Cr 23), os sacerdotes (1 Cr 24), os cantores (1 Cr 25), os porteiros (1 Cr 26) e os tesoureiros (1 Cr 26.20-28).

- O Culto na Sinagoga. Não encontramos menção no Antigo Testamento sobre o culto na sinagoga. Conforme Packer, Tenney e White Jr. (1988, p. 82): “O mais provável é que os judeus exilados criaram a sinagoga quando se reuniam para orar, cantar, e discutir a Tora enquanto viviam em terras estranhas. Depois que voltaram do Exílio, fizeram da sinagoga uma instituição formal”.

Observamos desta forma, que o sistema cúltico no Antigo Testamento se tornou ao longo dos séculos bastante organizado, complexo e formal. Percebe-se ao longo da narrativa bíblica, que quanto mais o povo se afastava de Deus, menos significativo ficava o culto. Esse descaso do povo para com Deus, sua Palavra e o culto culminou com a destruição do próprio templo (2 Rs 25.8-18).

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA DO CULTO NO NOVO TESTAMENTO

O culto no Novo Testamento recebeu forte influência da sinagoga, assimilando muitos de seus elementos, para posteriormente estabelecer uma característica própria. Não encontramos no Novo Testamento nenhum manual litúrgico ou tratado sistemático sobre o culto cristão. Apesar disso, Harpprecht (1998, p. 120-121) nos aponta três relevantes passagens a seu respeito:

- Mt 8.20: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. Nesse texto se destacam a acessibilidade livre e generosa do Senhor Jesus, que se permite ser encontrado pela comunidade cristã onde e quando quiser, além da comunidade reunida em seu nome ser p sinal por excelência da presença de Deus entre nós.

- 1 Co 11.24 e 25: “e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim”. Reproduzindo as palavras de instituição da Ceia, Paulo nos escreve oferecendo mais um aspecto da fundamentação bíblica para o culto cristão: Deus quer que sua comunidade se encontre com ele. Para possibilitar tal desejo, um rito foi instaurado.

- At 2.42-47: Esse texto descreve sucintamente a vida da igreja em Jerusalém, onde se pode observar o destaque dado ao ajuntamento dos crentes e ao partir do pão, indicando que a celebração da Ceia era um ato cúltico bastante frequente: “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singileza de coração [...]” (v. 46).

As condições iniciais da formação da Igreja, associada à falta do espaço litúrgico cristão, fizeram que com as reuniões fossem celebradas nas casas (At 2.46b; 16.40; 20.20; Rm 16.5; I Co 16.19; Cl 4.15, etc.), nos pátios do templo judaico (At 2.46b), às margens de rios (At 16.12-15) e em prisões (At 16.25).
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO CULTO CRISTÃO

O desenvolvimento histórico do culto cristão é descrito por Gonzalez (1980, vol. 1, p. 151 a 154), que nos informa do fato de que é através de uma série de documentos antigos preservados até hoje, que temos a possibilidade de saber como os antigos cristãos celebravam a comunhão. Algumas características comuns formaram parte de todas as reuniões de comunhão.

A comunhão era uma celebração. O gozo e a gratidão era uma característica presentes nos cultos. A comunhão era celebrada em meio de uma refeição, onde cada um trazia o que podia. Após compartilharem os alimentos, oravam pelo pão e pelo vinho. No princípio do século segundo, possivelmente em razão das perseguições e das calúnias que circulavam acerca das “festas de amor” dos cristãos, a comunhão passou a ser celebrada sem a refeição em comum. Tal fato não fez cessar o espírito de celebração das primeiras reuniões.

É ainda por esse tempo, que o culto de comunhão constava de duas partes. Na primeira liam-se e comentavam-se as Escrituras (culto homilético), faziam-se orações e cantavam-se hinos. A segunda parte do culto começava geralmente com o ósculo (beijo de cumprimento) santos da paz. O pão e o vinho eram trazidos para frente e eram apresentados a quem presidia. Em seguida, era pronunciada pelo presidente uma oração sobre o pão e o vinho, na qual se recordavam os atos salvíficos de Deus e se invocava a ação do Espírito Santo sobre o pão o vinho. Depois se partia o pão, os presentes comungavam, e se despediam com a benção. A esses elementos comuns, em diversos lugares e circunstância, acrescentavam-se outros.

Nesta época, só podia participar do culto quem tivesse sido batizado. Os que vinham de outras congregações podiam participar livremente, sempre e quando estivessem batizados. Aos convertidos que ainda não tinha recebido o batismo, era concedido assistir à primeira parte do culto, que consistia das pregações e orações. Após esse momento, se retiravam antes da celebração da comunhão propriamente dita.

Desde muito cedo surgiu também o costume de celebrar a comunhão nos lugares onde estavam sepultados os fiéis já falecidos. Esta era a função das catacumbas. As catacumbas eram cemitérios e sua existência era conhecida pelas autoridades, pois não eram apenas os cristãos que tinham tais cemitérios subterrâneos. Mesmo que em algumas ocasiões os cristãos tinham utilizados algumas das catacumbas para se esconder dos perseguidores, a principal razão pela qual se reuniam nelas era que ali estavam enterrados os heróis da fé. Acreditava-se que a comunhão unia, não apenas os crentes vivos e mortos entre si, mas também ao Senhor Jesus Cristo, e aos seus antepassados na fé. No caso dos mártires, existia o costume de se reunir junto a suas tumbas no aniversário de sua morte para celebrar a comunhão. Esta seria a origem da celebração das festas dos santos, que em geral se referiam, não aos seus natalícios, mas sim às datas de seus martírios.

A Igreja, como já observamos, se reunia principalmente nas casas. Com o crescimento das congregações, algumas casas foram dedicadas exclusivamente ao culto cristão. Assim, por exemplo, um dos mais antigos templos cristãos que se conserva, o de Dura-Europo, construído antes do ano 256, parece ter sido uma casa particular convertida em igreja.

A história da igreja teve como um dos seus grandes marcos a conversão de Constantino. No que se refere ao seu impacto sobre o culto cristão, continuaremos a citar Gonzalez (idem, vol. 2, p. 37 a 39), que nos informa que até a época de Constantino o culto cristão tinha sido relativamente simples. No princípio os cristãos se reuniam para adorar em casas particulares. Depois começaram a se reunir em cemitérios, como as catacumbas romanas. No século terceiro já havia lugares dedicados especificamente para o culto.

Após a conversão de Constantino o culto cristão começou a sentir a influência do protocolo imperial. Foi introduzido o incenso, utilizado até então no culto ao imperador. Os ministros que oficiavam no culto começaram a usar vestimentas litúrgicas ricamente ornamentadas durante o mesmo, em sinal de respeito pelo que estava tendo lugar.Surge também o costume de iniciar-se o culto com uma procissão.

Em razão das comemorações dos aniversários da morte dos mártires celebrando a ceia no lugar onde ele estava enterrado, posteriormente foram construídas igrejas em muitos desses lugares. Sem demora as pessoas passaram a pensar que o culto teria significado especial se celebrado em uma dessas igrejas, por causa da presença das relíquias do mártir, ou seja, de parte do seu corpo ou objeto que lhe pertenceu. Os mártires começaram a ser desenterrados para colocar seu corpo – ou parte dele – sob o altar de várias das muitas igrejas que estavam sendo construídas. Simultaneamente, algumas pessoas começaram a afirmar que tinham recebido revelações de mártires, além de lhes atribuir poderes miraculosos. A veneração e a adoração aos santos nascem destas práticas.
As igrejas construídas no tempo de Constantino e dos seus sucessores, nada tinham em comum com a simplicidade dos primeiros espaços litúrgico. Constantino mandou construir em Constantinopla a igreja de Santa Irene, em honra à paz. Helena, sua mãe construiu na Terra Santa a igreja da Natividade e a do Monte das Oliveiras. Muitas outras foram construídas nas principais cidades do Império. Essa política foi seqüenciada pelos sucessores de Constantino. Seguindo a prática dos imperadores romanos, quase todos eles tentaram perpetuar sua memória construindo grandes obras, no caso aqui, igrejas suntuosas. Praticamente todas as igrejas construídas por Constantino e seus sucessores mais imediatos desapareceram. Documentos por escrito e restos arqueológicos nos restaram para formarmos uma idéia da planta comum destes templos. E como padrão estabelecido no século IV perdurou por muito tempo, outras igrejas posteriores, que existem até os dias de hoje, ilustram o estilo arquitetônico da época.

A forma típica das igrejas de então, porém, é chamada “basílica”, e já era usado para designar os grandes edifícios públicos e privados – que consistiam principalmente de um grande salão com duas ou mais filas de colunas. Uma vez que tais edifícios serviram de referência e modelo para a construção das igrejas nos séculos quarto e seguintes, estas receberam o nome de “basílicas”.
CORRESPONDENTES DO CULTO CRISTÃO NA TRADIÇÃO CATÓLICA

Conforme já observado, as mudanças acontecidas nos primeiros séculos da história da igreja influenciaram não somente a estrutura dos templos, como também a liturgia do culto. É exatamente neste período que se desenvolve a missa com todo o seu ritual e elementos litúrgicos, que enfatizaram a estética e a pompa dos cultos, não sendo suficientemente capazes de manterem a verdadeira espiritualidade da adoração à Deus.
Segundo Champlin (1991, vol. 4, p. 303), o termo missa vem do latim. Comumente aplicado à eucaristia [termo derivado do grego eucharistia, “agradecimento”, passou posteriormente a significar a cerimônia da ceia, por parte do catolicismo ocidental. A origem do nome é incerta, mas os eruditos supões que vem das palavras latinas, Ite, missa est, “Ide, estais despedidos”, que o diácono pronuncia no fim da cerimônia [...].
O fundamento teológico católico para a missa, resume-se nas palavras do Concílio Vaticano II:

Por ocasião da última Ceia, na noite em que foi traído, nosso Salvador instituiu o sacrifício eucarístico de seu corpo e de seu sangue. Ele fez isso para perpetuar o sacrifício da cruz através dos séculos, até que ele volte, tendo confiado à sua amada Esposa, a Igreja, um memorial de sua morte e ressurreição, um sacramento de amor, um sinal de unidade, um vínculo de amor, um banquete pascal no qual Cristo é consumado, a mente é cheia de graça e nos é dada uma garantia de glória futura (Concílio Vaticano II apud CHAMPLIN, idem).

O CULTO CRISTÃO E A HERANÇA REFORMADA

A Reformar Protestante pode ser caracterizada por uma mudança na doutrina, na vida e no culto. Lutero proclamava a rejeição da missa romana, dentre outras razões, pelo fato de contradizer a sã doutrina e enaltecer a mera formalidade do culto, desassociando-o do seu verdadeiro propósito.

A missa no papado deve ser considerada a maior e mais horrível abominação, porque ela entra em conflito direto e violento com o artigo fundamental [de Cristo e fé]. Contudo, acima e além de todas as outras, ela tem sido a suprema e mais preciosa das idolatrias papais [...] Visto que tais abusos múltiplos e indescritíveis tenham surgido em toda parte pela compra e venda de Missas, seria prudente passar sem a Missa, mesmo que não fosse por outro motivo senão o de cortar tais abusos (LUTERO, 1647, cap. XV.iii apud GOFREY, 1999, p. 156).

Assim como Lutero, João Calvino censurou veementemente a prática da missa romana:

Quando Deus levantou Lutero e outros, que ergueram uma tocha para nos iluminar a entrada ao caminho da salvação, e que, por seu ministério, fundaram e ergueram nossas igrejas, estavam em parte obsoletos aqueles cabeçalhos doutrinários nos quais está a verdade da nossa religião, aqueles nos quais a salvação dos homens está inclusa. Mantemos que o uso dos sacramentos estava de várias maneiras viciado e poluído. E mantemos que o governo da Igreja estava convertido numa espécie de tirania infame e insuportável (CALVINO, 1960, p. 167 apud GOFREY, 1999, p. 157).

A partir da Reforma Protestante, com o advento do denominacionalismo, surgido em razão de divergências doutrinárias, o culto cristão passou a ter dentro de cada denominação evangélica, uma liturgia própria, influenciada por fatores culturais e doutrinários. Apesar desta diversificação litúrgica, o culto cristão geralmente contém os seguintes elementos; a oração, a música, a leitura da Bíblia, o ofertório, a explanação da palavra e a benção apostólica.

LITURGIA DO CULTO CRISTÃO NAS IGREJAS PENTECOSTAIS

Nas igrejas pentecostais o culto cristão, nas suas variadas formas, dependendo da finalidade do mesmo (oração, doutrina, ação de graças, Santa Ceia, Ordenação de Obreiros, etc), a principal característica é a livre manifestação dos dons espirituais e das expressões espontâneas da comunidade.

Basicamente, as reuniões acontecem da seguinte forma:

- Abertura com uma oração realizada pelo dirigente do culto, ou por alguém por ele delegado;
- Cântico de hinos do hinário oficial (Harpa Cristã);
- Cânticos de hinos por grupos, conjuntos musicais, corais e solistas;
- Leitura Bíblica, feita com a congregação em pé, seguida de oração;
- Recolhimento dos dízimos e das ofertas, geralmente acompanhado por um cântico;
- Pregação ou ensino da Palavra, costumeiramente seguido de apelo;
- Agradecimentos e avisos gerais;
- Oração final;
- Bênção apostólica;

Os elementos acima nem sempre seguem a sequência descrita, podendo ter diversas variações dependendo da denominação e da região onde o culto é celebrado. Não há uniformidade rígida na liturgia pentecostal.

MODISMOS LITÚRGICOS INTRODUZIDOS NO CULTO CRISTÃO PENTECOSTAL

A negligência para com o ensino teológico promoveu alguns males nas igrejas pentecostais, dentre as quais as Assembleias de Deus, onde a vulnerabilidade para modismos doutrinários, teológicos e litúrgicos é notória. Observemos uma breve lista que envolve algumas inovações (ou imitações do movimento neopentecostal):

- Cultos de “milagres” (inclusive nos círculos de oração) com nomes ou desafios específicos (As fogueiras santas, As voltas em Jericó, A travessia do Mar Vermelho, Os mergulhos no Rio Jordão,etc.);

- Os cultos semanais da vitória, da conquista, do milagre, da restituição, etc. (mera imitação do que acontece nas Igrejas Universais do Reino de Deus e outras semelhantes);

- As determinações e decretos nas orações públicas (teologia e liturgia triunfalista);

- O modismo do “eu profetizo” e do “eu determino” dos pregadores e das pregações;

- A vergonhosa barganha dos dízimos e ofertas, fundamentada na teologia de alguns televangelistas que difundem a distorcida teologia da prosperidade e da vitória financeira com as suas semeaduras descabidas, com o cínico propósito de manter status e impérios pessoais em nome da pregação do Evangelho.

CONCLUSÃO

Apenas uma fundamentação genuinamente bíblica, associada ao propósito de somente glorificar a Deus, pode estabelecer, promover e restaurar o verdadeiro culto critão, e no caso aqui, os praticados nas igrejas pentecostais, e de forma mais específica, nas Assembleias de Deus no Brasil.

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Claudionor Côrrea de. Manual da Harpa Cristã. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1999.

CHAMPLIN, R.N. Enclicopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2001, v. 4

GONZÁLES, Justo L. E até aos confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo. Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 1995. v. 1 e v. 2

SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph (Org.). Teologia Prática no contexto da América Latina. São Leopoldo: Sinodal, ASTE, 1998.

HARRIS, R. Laird et al. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. Tradução Márcio Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo: Vida Nova, 1998.

PACKER, J. I.; TENNEY, Merril C.; WHITE JR., William. O mundo do Novo Testamento. Flórida, EUA: Editora Vida, 1988.

WHITE, James F. Introdução ao Culto Cristão. Tradução de Walter Schlupp. São Leopoldo: Sinodal, 1997.

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