13 de agosto de 2011

10- A TRIUNFANTE PROVIDÊNCIA DE DEUS NA VIDA DE UM HOMEM


(Gn 49.22; 50.20; At 7.846)

Se Deus nos ama, por que sofremos? Por que coisas boas acontecem a pessoas más e por que coisas más acontecem a pessoas boas? Por que pessoas cujos pés são formosos têm de pisar estradas crivadas de espinhos e aqueles que semeiam a violência pisam tapetes aveludados?
A doutrina da providência divina nos mostra que Deus é soberano e que Ele está no controle absoluto de todas as coisas. Deus não desperdiça sofrimento na vida de seus filhos. As provas pelas quais passamos são inevitáveis, variadas, passageiras e pedagógicas, mas todas elas são trabalhadas por Deus para nosso bem final.
Nosso Deus ainda continua transformando vales em mananciais, desertos em pomares, noites escuras em manhãs cheias de luz, vidas esmagadas pelo sofrimento em troféus de Sua generosa graça.
A vida de José do Egito, filho de Jacó, é uma das mais lindas histórias da Bíblia. Ele foi um homem fiel a seus pais, a seus superiores e a Deus. Ele foi fiel na adversidade e na prosperidade. Ele viu Deus transformar suas tragédias em triunfo. Ele foi o mais próximo tipo de Cristo na Bíblia:
1) Amado pelo pai e invejado pelos irmãos.
2) Vendido por vinte moedas de prata.
3) Desceu ao Egito em tempos de prova.
4) Perseguido injustamente. 5) Abandonado pelo amigo.
6) Exaltado depois da aflição.
7) Salvador de seu povo.
A vida de José nos ensina algumas lições preciosas.

A presença de Deus conosco (At 7.9)
Deus não nos livra dos problemas, mas está conosco em meio ao problemas (At 7.9). Destaco aqui alguns pontos importantes:


Em primeiro lugar, José enfrentou a dor do desprezo de seus irmãos. Os sonhos de José foram o pesadelo de seus irmãos. Eles se encheram de ódio porque Deus enchia o coração de José de gloriosos sonhos. Por ser amado do pai e viver uma vida íntegra, seus irmãos passaram a ter inveja dele. Em vez de imitar as virtudes de José, seus irmãos desejaram destruí-lo. José sofreu o boicote de seus irmãos que não falavam mais pacificamente com ele (Gn 37.4). José sofreu o ódio dos irmãos (Gn 37.4,8). José sofreu a traição e a conspiração de seus irmãos (Gn 37.18). José sofreu o desdém de seus irmãos (Gn 37.19,25).
Em segundo lugar, José enfrentou a dor do abandono. José foi jogado no fundo de um poço. Seus irmãos o abando¬naram e o mataram no coração (Gn 37.20-22). Eles taparam os ouvidos ao clamor de José do fundo da cova (Gn 42.21). Ele foi rejeitado por aqueles que mais deviam amá-lo.
Em terceiro lugar, José enfrentou a dor de sentir-se um objeto descartável. José foi vendido como escravo pelos seus próprios irmãos (Gn 3 7.27-28). Ele foi tratado como mercadoria descartável. Ele foi arrancado brutalmente de seu lar, dos braços de seu pai, de sua terra. Sua vida foi arrasada, sua dignidade foi pisada. José foi vítima da mentira criminosa de seus irmãos que levou Jacó a desistir de procurá-lo (Gn 37.31,34). José foi vítima de uma consolação falsa de seus irmãos a Jacó, pois eles tentaram induzir Jacó a esquecer-se de José (Gn 37.35).
Em quarto lugar, José enfrentou a dor de viver sem identidade. José agora é um adolescente amado pelo pai, traído pelos irmãos, vendido como escravo para um país estrangeiro. Ele sentiu-se menos do que gente, objeto, mercadoria. Se não fossem seus sonhos, ficaria marcado para o resto da vida. José foi para o Egito sem nome, sem honra, sem dignidade pessoal, sem direitos, sem raízes. No Egito, é revendido. E colocado no balcão, na vitrina. E apenas mão-de-obra, máquina de serviço, mercadoria humana.
Em quinto lugar, José enfrentou a dor do assédio sexual. José poderia enumerar várias razões para justificar sua queda moral com a mulher de Potifar, seu amo.
Primeiro, ele era um adolescente (Gn 39.2). Os psicólogos diriam: esse é o tempo da auto-afirmação. Os médicos diriam: esse é o tempo da explosão dos hormônios. Os jovens diriam: ele precisa provar que é homem. Ele poderia dizer: o apelo foi irresistível.
Segundo, ele era forte e bonito (Gn 39.6). O texto bí¬blico diz que José era formoso de porte e de aparência. Ele era um jovem belo, inteligente, meigo e líder. Por isso, "a mulher [...] pôs os olhos em José" (Gn 39.7). José era um moço dotado de características atraentes. Ele era belo por fora e por dentro. Sua personalidade carismática, seu caráter sem macula e sua beleza física fizeram dele o alvo predileto da cobiça da mulher de seu amo.
Terceiro, ele estava longe da família (Gn 39.1). Não tinha ninguém por perto para vigiá-lo. Ele já sofrerá com a traição dos irmãos. O pai não estava por perto para cobrar nada. Ninguém o conhecia para se escandalizar com suas decisões. O compromisso de José, porém, não era com a opinião pública. Sua fidelidade não tinha que ver com popularidade ou com reputação social. Seus valores estavam plantados em solo mais firme. Seu compromisso era com Deus e consigo mesmo. José não era um ator nem um hipócrita. Seu comportamento era coerente, perto ou longe da família. Ele não tinha duas caras, duas atitudes. Havia consistência em sua vida.
Quarto, ele era escravo (Gn 39.1). Afinal de contas era sua própria senhora que o seduzia. Ele podia pensar que não tinha nada a perder e ainda: um escravo só tem de obedecer. Entretanto, José entendeu que Potifar lhe havia confiado tudo em sua casa, menos sua mulher. José sabia que a traição conjugai é uma facada nas costas, uma deslealdade que abre feridas incuráveis. Ele estava pronto a perder sua liberdade, mas não a sua consciência pura. Estava pronto a morrer, mas não a pecar.
Quinto, ele foi tentado diariamente (Gn 39.7,10). Não foi ele quem procurou. Foi a mulher que lhe dizia todos os dias: "Deita-te comigo". Ele poderia ter racionalizado e dito para si mesmo: "Se eu não for para a cama com ela, perco o emprego e ainda posso ser preso". Mas José não cedeu à tentação. Ele agiu de forma diferente de Sansão, que não resistiu à tentação e, por pressão, acabou sendo tomado por uma impa¬ciência de matar e naufragou no abismo do pecado. José não abriu espaço em seu coração para flertar com o pecado: Ele não ficou paquerando o pecado, acariciando-o no coração. Sua atitude foi firme a despeito da insistência da mulher de seu senhor.
Sexto, ele foi agarrado (Gn 39.11,12). Ele podia dizer: "Eu fiz o que estava a meu alcance. Se eu não cedesse, o escândalo seria maior". José preferiu estar na prisão, com a consciência limpa, a estar em liberdade na cama da mulher com a consciência culpada. Ele perdeu a liberdade, mas não a dignidade. Ele resistiu ao pecado até o sangue. José manteve-se firme por entender a presença de Deus em sua vida (Gn 39.2-3), a bênção de Deus em sua vida (Gn 39.5). Também por entender que o adultério é maldade contra o cônjuge tra¬ído (Gn 39.9) e um grave pecado contra Deus (Gn 39.9). Em relação às paixões carnais, o segredo da vitória não é resistir, mas fugir. José fugiu e, mesmo indo para a prisão, escapou da maior de todas as prisões, a prisão da culpa e do pecado.
Em sexto lugar, José suportou a dor da demora de Deus. José foi injustiçado em sua casa. José foi injustiçado em seu trabalho. José foi injustiçado na prisão. Passaram-se treze anos até que ele fosse recompensado. Você pode imaginar o que é viver em fidelidade tanto tempo até Deus reverter a situação?
William Cowper, o brilhante poeta inglês, escreveu: "Por trás de toda providência carrancuda, esconde-se a face sorridente de Deus". John Bunyam ficou preso quatorze anos em Bedford, na Inglaterra, por pregar a Palavra de Deus em praça pública. Via, das grades da prisão, sua filha primogênita cega, e isso lhe cortava o coração. Mas, na prisão, ele escreveu o livro mais lido no mundo depois da Bíblia: O peregrino. Esse livro é instrumento de Deus para levar milhares a Cristo. Ele é fonte de consolo para muitos corações feridos. Deus transforma nossa dor em fontes de cura para os outros. Ele nos consola em nossa tribulação para podermos consolar outros, que passam pelas mesmas circunstâncias, com as mesmas consolações com as quais somos contemplados por Deus (2Co 1.3,4).
O texto de Atos 7.9 revela uma verdade consoladora na vida de José: "... mas Deus era com ele". A presença de Deus é real, embora não vista; a presença de Deus é constante, embora nem sempre sentida; a presença de Deus é restauradora, embora nem sempre reconhecida.
"... mas Deus era com ele". Há um plano perfeito sendo traçado no andar de cima. Deus está no controle. Ele vê o fim da História. Ele tece os fios da História de acordo com seu sábio propósito. Os dramas de nossa vida não apanham Deus de surpresa. Os imprevistos dos homens não frustram os desígnios de Deus. O Senhor já anunciara a Abraão que sua descendência estaria no Egito. Deus usava o infortúnio de José para cumprir Seus gloriosos propósitos.
"... mas Deus era com ele". Deus jamais desampara os que confiam nele. Ele não nos poupa dos problemas, mas caminha conosco em meio aos problemas. Quando passamos pelo vale da sombra da morte, Ele vai conosco. Quando passamos pelas ondas, rios, fogo, Ele vai conosco. Quando os amigos de Daniel estavam na fornalha, o Quarto Homem estava com eles. Jesus prometeu estar conosco sempre, todos os dias de nossa vida, até a consumação dos séculos.



A intervenção de Deus por nós (At 7.10)
Deus não nos livra de sermos humilhados, mas nos exal¬ta em tempo oportuno (At 7.10). Há alguns pontos na vida de José que merecem ser destacados:
Em primeiro lugar, José foi humilhado por ser fiel. Ele foi humilhado em sua família. Foi humilhado por sua senhora. Foi humilhado na prisão pelo copeiro do faraó, mas este se esqueceu de sua promessa. Foi humilhado durante treze anos por não transigir com os absolutos de Deus em sua vida. Quando uma pessoa sofre por causa de seus desatinos, isso parece fazer sentido. Mas José sofria por andar na verdade, por não transigir com o erro, por não ceder às pressões e seduções do pecado.
Em segundo lugar, Deus trabalhou na vida de José, dando-lhe três coisas. A primeira, consolação em seus problemas (At 7.9). Deus estava com ele em seus problemas. A segunda, libertação de seus problemas (At 7.10). Deus não o livrou de ter problemas, mas livrou-o de ser tragado pelos problemas. A terceira, promoção depois de seus problemas (At 7.10,11). Ele foi exaltado depois de ser provado e humilhado.
Em terceiro lugar, Deus exaltou José depois da humilhação. Podemos verificar essa ação de Deus na vida de José de quatro formas:
A primeira: Deus o livrou de todas suas aflições. Vida cristã não é ausência de aflição, mas livramento nas aflições. Depois da tempestade, vem a bonança. Depois do choro, vem a alegria. Depois do vale, vem o monte. Depois do deserto, vem a terra prometida. Assim como Deus livrou José de todas as suas aflições, Ele é poderoso para enxugar suas lágrimas, para aliviar seu fardo, para acalmar as tempestades de seu coração, para trazer bonança para sua vida e lhe dar um tempo de refrigério.
A segunda: Deus lhe deu graça e sabedoria. Para entender o que ninguém entendia. Para ver o que ninguém via. Para discernir o que ninguém compreendia. Para trazer soluções a problemas que ninguém previa. O futuro do Egito e do mundo foi revelado a José por meio do sonho do faraó. Em José, havia o Espírito de Deus. Por meio da palavra de José, o mundo não entrou em colapso. Por expediente de José, a crise que poderia desabar sobre o Egito e as nações vizinhas foi transformada em oportunidade para Deus cumprir Seus gloriosos propósitos na vida de Seu povo.
A terceira: Deus o galardoou e o fez instrumento de bênção para os outros. Deus usou seus irmãos para colocá-lo no caminho da providência e usou José para salvar a vida de seus irmãos. Todas as coisas cooperam para bem daqueles que amam a Deus. José foi o instrumento que Deus levantou para salvar o mundo da fome e da morte.
A quarta: Seu pai, Jacó, profetizou uma bênção sobre ele confirmando-lhe a bênção de Deus (Gn 49.22). Jacó sintetizou a bênção de Deus sobre José, dizendo: "José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto a uma fonte; seus raminhos se estendem sobre o muro". José tornou-se frutífero. Sua vida foi uma bênção. Ele fez diferença em seu tempo. Ele marcou a História. Muitos reis e potentados têm seus nomes cobertos pela poeira do esquecimento, mas o nome de José é celebrado ainda hoje. Ele foi frutífero, porque foi um ramo junto à fonte. O segredo de seu sucesso foi sua intimidade com Deus. Foi Deus Quem o fez prosperar. Foi a mão da providência divina que o conduziu em triunfo. José foi ramo que se estendeu sobre os muros. Ele esparramou as influências abençoadoras de sua vida para outros povos. Ele influenciou os que estavam perto e os que estavam longe. Foi bênção em casa e fora de casa.

A graça de Deus por meio de nós (At 7.11-16)
Deus não nos poupa de sofrermos injustiças, mas nos dá poder para triunfarmos sobre elas por meio do perdão (At 7.11-16). Chamo sua atenção para dois pontos:
Em primeiro lugar, José foi injustiçado pelos seus irmãos, mas compreendeu que eles estavam sendo apenas ins¬trumentos da providência divina em sua vida. Três textos nos provam isso:
• Gênesis 45.5 - "Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos aborreçais por me haverdes vendido para aqui; porque para preservar vida é que Deus* me enviou adiante de vós".
• Gênesis 45.8 - "Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como governador sobre toda a terra do Egito".
• Gênesis 50.20 - "Vós, na verdade, intentaste o mal contra mim; Deus, porém, o intentou para o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar mu¬ta gente com vida". Como é importante saber que o acaso não existe! Nossa vida não é guiada por um destino cego nem mesmo por coincidências. Não somos controlados pelos astros nem mesmo por reações químicas de nosso cérebro. Nosso destino está nas mãos do Deus vivo. E Ele Quem nos toma pelos braços, nos guia com Seu conselho eterno e depois nos recebe na glória (SI 73.23,24).
Em segundo lugar, José decide perdoar seus irmãos, em vez de buscar a vingança. José resolveu pagar o mal com o bem. Perdoar é restaurar, é cancelar a dívida, é não cobrar mais. E deixar o outro livre e ficar livre. Perdoar é oferecer ao ofensor o seu melhor. O perdão oferece cura para os ofensores e ofendidos.
José deu várias provas de seu perdão:
Primeiro, deu o nome de Manasses a seu primeiro filho (Gn 41.51). Quando o filho primogênito de José nasceu, este deu-lhe o nome de Manasses, pois disse: "Deus me fez esque¬cer de todo o meu trabalho, e de toda a casa de meu pai". O nome Manasses significa "perdão". José estava apagando de sua memória todo o registro de mágoa e ressentimento. Ele queria celebrar o perdão.
Segundo, deu a melhor terra do Egito a seus irmãos (Gn 45.18,20). O amor que perdoa é generoso. Ele paga o mal com o bem. Ele busca os meios e as formas para abençoar aqueles que um dia lhe abriram feridas na alma.
Terceiro, sustentou seus irmãos e seu pai (Gn 47.11,12). Seu perdão não foi apenas uma decisão emocional regada de palavras piedosas, mas um ato deliberado e contínuo que desaguou em atitudes práticas. Ele não apenas zerou a conta do passado, mas fez novos investimentos para o futuro.
Quarto, pagou o mal com o bem (Gn 50.19-21). Ele olhou para a vida com os olhos de Deus e percebeu que o ato injusto dos irmãos, embora tenha sido praticado com motivações erradas, foi usado por Deus para a salvação de sua família. Agora, tendo poder para retaliar, usa esse poder para abençoar.
Concluo, afirmando que da vida de José aprendemos duas grandes lições:
A primeira delas é o caráter ondulatório da vida. A vida de José foi tecida pelas marcas da exaltação e humilhação; por altos e baixos. Nossa vida também é ondulatória: luz e sombras; alegrias e choro; festa e luto; saúde e doença; perdas e ganhos; celebração e lamento; dias claros e dias tenebrosos; esperança e medo; alívio e dor. Precisamos aprender a olhar a vida pela perspectiva de Deus para não nos desesperarmos quando estivermos cruzando os vales escuros da vida. O im¬portante é que Cristo seja glorificado em nosso corpo, quer pela vida, quer pela morte (Fp 1.20).
A segunda lição é a providência triunfante de Deus. O plano de Deus é perfeito. Ele já nos destinou para a glória. Não importa quão estreito seja o caminho, quão cheio de espinhos seja a estrada, ou quão furiosos sejam os inimigos que nos espreitam. Nossa tribulação é certa, e nossa vitória, segura.
Os infortúnios humanos não frustram os planos divinos. Portanto, devemos aprender as seguintes lições:
• Estejamos preparados para mudanças circunstanciais na vida.
• Não transijamos com os valores absolutos, mesmo quando as provas forem terrivelmente opressoras;
• Confiemos em Deus quando as coisas estiverem em seu pior estagio, esperemos e confiemos. A tempestade passará. O sol voltará a brilhar.
• Saiba que Deus tem grandes propósitos para a nossa vida e por intermédio de nossa vida. Deus ainda está escrevendo a sua história e a minha, e o último capítulo ainda não lhe foi revelado. Coisas melhores estão por vir. O melhor está por vir!

( livro QUATRO HOMENS, UM DESTINO - Hernandes Dias Lopes)

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