10 de agosto de 2011

9-QUANDO DEUS É O SENHOR DE NOSSOS SONHOS

José era um jovem sonhador. Seus sonhos o mantiveram com os olhos no alvo e o sustentaram nos tempos de crise. Ele sonhou com os feixes se inclinando diante do dele e com o Sol, a Lua e as estrelas se encurvando diante dele. Seus sonhos geraram inveja no coração de seus irmãos (Gn 37.11), e eles já não falavam mais pacificamente com ele (Gn 37.4). A predileção do pai e a imaturidade de José em contar a seus irmãos os seus sonhos causaram-lhe muitos problemas. Mas, mais tarde, Deus transformou aquilo que aparentemente era uma tragédia em grande bênção. A vida de José nos ensina grandes e práticas lições, como veremos:

Um jovem disposto a honrar o pai
José levava Deus a sério e demonstrava isso honrando seu pai. Sua mãe morrera ao dar à luz Benjamim, seu irmão. José foi amado pelo pai e cresceu bebendo o leite genuíno da verdade e sugando o néctar da piedade. Suas virtudes denunciavam os pecados de seus irmãos; sua luz apontava as trevas em que viviam; sua prontidão em obedecer ao pai de todo o coração apontava para a maldade deles. O sucesso de José era o fracasso deles. Eles não viam José como um irmão e amigo, mas como um concorrente. Eles não olhavam para ele com benevolência, mas como um rival que deviam afastar do caminho.
A vida de José é um outdoor a comunicar-nos a mensagem altissonante de que vale a pena honrar os pais. É o primeiro mandamento com promessa. Por outro lado, o filho que desobedece aos pais e os desonra é maldito, pois o pecado da rebeldia é como o pecado da feitiçaria. José se dispôs a obedecer a seu pai, indo ao encontro de seus irmãos, mesmo sabendo que eles não falavam mais com ele (Gn 37.13). José se esforçou para obedecer, o que prova que ele obedeceu de todo o seu coração (Gn 37.14-17).

Um jovem disposto a guardar seu coração da mágoa
Não podemos administrar as circunstâncias que nos cerram mas podemos administrar nossos sentimentos. Não podemos administrar o que as pessoas fazem contra nós, mas podemos decidir como vamos reagir a essas ações. José es¬colheu guardar seu coração da mágoa. Ele escolheu viver na dependência de Deus. Ele escolheu ser guiado pelos seus sonhos. José sofreu não porque estava errado, mas porque estava certo. Ele não sofreu por causa de seus pecados, mas por causa de suas virtudes. Ele sofreu não porque pegou os atalhos da desobediência, mas porque seguiu a estrada da obediência. Que tipo de sofrimento ele enfrentou?

Em primeiro lugar, o sofrimento dos maus-tratos na família. O maior sofrimento de José não foi nas mãos de estranhos, mas nas mãos de seus irmãos. A maior ferida aberta em seu coração foi provada não por inimigos de fora, mas pelos irmãos de dentro de sua própria casa. Que sofrimentos foram esses?
Primeiro, José sofreu o boicote de seus irmãos que não falavam com ele pacificamente (Gn 37.4). Os irmãos de José o isolaram, ergueram muros de separação, trataram-no com indiferença e desdém. Olharam para ele como um inimigo a quem deviam eliminar. Havia ódio no coração deles e veneno em suas palavras. Antes de decidir pela morte de José, feriram-no com a língua.
Segundo, José sofreu o ódio dos seus irmãos (Gn 37.4,5,8). O ódio no coração dos irmãos de José não ficou estagnado ou congelado, mas explodiu em ondas cada vez mais poderosas. Foi como uma avalancha que se desprendeu e veio arrastando tudo e a tudo inundando. Eles foram dominados por um ódio crescente, transbordante, avassalador. O relato de Gênesis é dramático: "... odiavam-no [...] o odiaram ainda ais. [...] Por isso ainda mais o odiaram" (Gn 37.4,5,8).
Terceiro, José sofreu os ciúmes de seus irmãos (Gn 7.11). Os sonhos de José provocaram pesadelo em seus irmãos. Quanto mais José crescia, mas eles se afundavam no pântano dos ciúmes. Os sonhos de José apontavam para um plano glorioso de Deus de levantar José como um líder de sua família e de seu povo. A vitória de José era a derrota de seus irmãos. Seu triunfo era o fracasso deles. Eles não tinham a disposição de se alegrarem com seu sucesso.
Quarto, José sofreu a traição e a conspiração de seus irmãos (Gn 37-18). José estava indo ao encontro de seus irmãos por ordem de Jacó e para o bem deles. Mas, em vez de acolherem o irmão com simpatia, conspiraram contra ele para o matar. Agiram com injustiça, com maldade e com violência. Perderam o amor natural, tornaram-se pior que os pagãos e cometeram um crime hediondo, atentaram contra a vida do próprio irmão.
Quinto, José sofreu o desdém de seus irmãos (Gn 37.19-25). Os irmãos de José quiseram matá-lo e destruir seus sonhos. Eles pensaram que, eliminando José, destruiriam o plano traçado para ele. Assim, conspiraram contra o irmão, contra seus sonhos e contra o próprio Deus. A primeira coisa que fizeram com José foi despi-lo de sua túnica. Essa túnica era mais do que uma peça de vestuário; era um símbolo -símbolo do amor preferencial de Jacó por José (Gn 37.3). Todas as vezes que olhavam para essa túnica de José, sentiam-se preteridos e ameaçados.
Sexto, José sofreu a atitude perversa de seus irmãos de matá-lo no coração e jogá-lo numa fossa (Gn 37.20-22). Os irmãos de José urdiram um plano para eliminá-lo. Aquela região era desértica. Eles o despiriam de sua túnica, o jogariam numa cisterna, salpicariam sua túnica com sangue de um cabrito e diriam a Jacó que um animal selvagem o havia devorado. Tudo parecia um crime perfeito. Eles só não contaram com a intervenção divina. Eles estavam ocupados fazendo o mal contra José, e Deus estava ocupado transformando esse mal em bênção.
Sétimo, José foi vendido como escravo pelos seus irmãos (Gn 37.27,28). Por interferência de Judá, eles decidiram descartar José não pelo expediente da morte, mas pelo caminho do comércio. Eles venderam José como uma mercadoria, uni objeto. Eles não apenas afastaram José do caminho deles, mas ainda auferiram lucro com isso. Aqui está o primeiro caso de tráfico humano. O primeiro escravo foi vendido dentro da própria família. Eles não venderam um inimigo capturado na guerra nem um estranho ou inimigo perigoso, mas o próprio irmão, sua própria carne (Gn 37.27).
Oitavo, José sofreu o silêncio indiferente de seus irmãos na hora do seu clamor agônico (Gn 42.21). Jogado no fundo daquela cisterna, José foi tomado por uma profunda angústia de alma e rogou a seus irmãos, mas eles não o acudiram. José sofreu a dor de clamar sem ser ouvido, de chorar sem ser per¬cebido, de gritar por socorro e ninguém lhe estender a mão.
Nono, José foi vítima de uma mentira criminosa de seus irmãos, mentira essa que levou Jacó, seu pai, a desistir de procurá-lo (Gn 37.31-34). Os irmãos de José tomaram sua túnica, mataram um cabrito e a molharam no sangue. Eles mesmos não levaram a túnica a Jacó, mas a enviaram com um recado cheio de maldade: "Achamos esta túnica; vê se é a túnica de teu filho, ou não" (Gn 37.32). Eles não tratam José como irmão, mas apenas como filho de Jacó. A linguagem da mágoa do pai e dos ciúmes do irmão suplantou a linguagem do amor. Naquela época, não havia exame de DNA. Por isso, Jacó concluiu: "A túnica de meu filho! Uma besta-fera o devorou; certamente José foi despedaçado" (Gn 37.33). A mentira dos irmãos de José levou Jacó a desistir de procurá-lo.
Décimo, José foi vítima de uma falsa consolação de seus irmãos (Gn 37.35). Eles foram mentirosos e hipócritas. Eles tramaram contra José, despiram-no de sua túnica, jogaram-no em uma cisterna, taparam os ouvidos ao seu clamor, venderam-no como mercadoria, forjaram uma situação para encobrir seu crime e, depois, tentaram consolar Jacó. Eles não apenas foram mentirosos e hipócritas, mas também contumazes no erro. Passaram-se vinte e dois anos, e eles mantiveram a mentira. Eles viram muitas vezes a cadeira de José vazia, e o rosto de Jacó encharcado de lágrimas, mas abafaram a voz da consciência e mantiveram aquela trágica mentira. A mentira deles tinha uma única finalidade, levar Jacó a esquecer José.
Em segundo lugar, o sofrimento emocional do desvalor. José foi um adolescente amado pelo pai, traído pelos irmãos e vendido como escravo para um país estrangeiro. Este é o primeiro tráfico de escravos da Bíblia (Gn 37.36). Ele deve ter se sentido menos do que gente, objeto, mercadoria. Se não fosse por seus sonhos, ficaria marcado o resto da vida, complexado e revoltado. Contudo, ele não precisou ir para um divã. Ele não ficou amargo nem alimentou ódio ou vingança em seu coração. No Egito, ele foi revendido. Foi colocado no balcão como um produto. Ele foi exposto na vitrina como uma mercadoria. Foi considerado apenas mão-de-obra, máquina de serviço, sem nome, sem identidade, sem sentimentos.
Em terceiro lugar, o sofrimento emocional da injustiça. Pela sua fidelidade a Deus, José é promovido a mordomo da casa de seu senhor. Mas, por sua fidelidade a Deus, sofre mais uma vez. Sua patroa tramou contra ele. Ela tentou seduzi-lo e levá-lo para a cama. Ela fez isso muitas vezes e com irreme¬diável persistência. Mas José, em momento algum, abriu a guarda. Ele era escravo e, ao mesmo tempo, livre. Os egípcios podiam alugar seus braços, mas não seu coração. Eles podiam comprar sua vida, mas não sua consciência. Ele estava dispos¬to a ser preso e até morrer, mas não a pecar. Preferiu ir para a cadeia e ficar com a consciência livre a auferir as vantagens do pecado e viver no calabouço da culpa. Sua patroa o agarrou, mas ele fugiu. E melhor ser mal interpretado pelos homens e aprovado por Deus do que praticar o pecado escondido e ser reprovado pelo céu. José foi levado para a cadeia pela acusa¬ção de assédio sexual. As vezes, sofremos por nossa fidelidade a Deus. Abel foi assassinado por Caim, Saul quis matar Davi, Potifar jogou José na cadeia.
Todavia, o Senhor era com José (Gn 39.2). Este resolveu viver uma vida pura no meio da podridão. Ele não era produto do meio, mas um agente transformador dele. José estava dispos¬to a ser preso, a ser morto, menos negociar sua consciência.
Em quarto lugar, o sofrimento da ingratidão. Na cadeia, depois de ganhar a simpatia do chefe da prisão, ele é esqueci¬do pelo copeiro de faraó. Foi, mais uma vez, vítima de ingratidão e do esquecimento (Gn 40.14,23). Ficou mais dois anos mofando na cadeia, injustamente. Em sua casa, foi vítima da inveja dos irmãos. Na casa de Potifar, foi vítima da sedução de sua patroa. Na prisão, foi vítima do esquecimento do copeiro de faraó. A inveja de seus irmãos o levaram para o Egito. A sedução de sua patroa o levou para a cadeia. A ingratidão do copeiro o fez permanecer na prisão além do que gostaria de ficar. Em tudo isso, porém, José não deixou azedar seu coração. Deus era o Senhor de seus sonhos. José sabia que Deus estava no controle. Às vezes, o caminho da coroação passa pelo vale. Não há vitória sem luta nem exaltação sem humilhação. José não saiu da cadeia no tempo que gostaria, porque, se tivesse saído, o máximo que teria sido era um bom lavador de copos no palácio do faraó. Naqueles dois anos, Deus construía a rampa do palácio, para que José saísse da cadeia e fosse o governador do Egito.

Um jovem fiel a Deus na adversidade e na prosperidade
Muitos conseguem permanecer fiéis no vale, mas, quando chegam ao topo da montanha, caem; conseguem ficar firmes na adversidade, mas naufragam na prosperidade. José foi fiel tanto na adversidade quanto na prosperidade.
Ele foi fiel quando estava com sua família, quando era objeto do ciúme e do ódio de seus irmãos. Ele foi fiel como escravo. Durante treze anos, foi escravo no Egito, ou seja, dos 17 aos 30 anos (Gn 37.2 e 41.46). Ele foi fiel como mordomo. Também foi fiel na cadeia (Gn 39.21-23; 41.14). Agora, é conduzido ao trono como governador do Egito e permanece fiel. O faraó tem um sonho. Os magos não conseguem inter¬pretá-lo (Gn 41.24). José é levado ao faraó. Este o exalta (Gn 41.15), mas José devolve a glória a Deus (Gn 41.16,25). José interpreta o sonho do faraó (Gn 41.25-32). José aconselha o faraó (Gn 41.33-36). José é elevado à honrada posição de governador do Egito (Gn 41.39-44). Muitos lidam bem com a crise, mas não sabem lidar com o sucesso. Há mais pessoas que caem com o sucesso do que com a adversidade. José, porém, manteve-se de pé tanto no vale quanto no monte; tanto na adversidade quanto na prosperidade; tanto na prisão como no palácio.
Os sonhos de José o levaram a quatro fases de liderança: na casa do pai, na casa de Potifar, na prisão e no palácio. Cada subida foi precedida de humilhações e de ameaças de morte. Mas José permaneceu fiel, e Deus o fez prosperar. Porque foi fiel a Deus, este foi o Senhor dos seus sonhos e o realizador deles. Ele chegou ao topo da realização de seus sonhos porque subiu os sete degraus da obediência:
Primeiro, foi obediente em tudo a seu pai.
Segundo, foi leal e fiel a seus irmãos ingratos.
Terceiro, nunca se tornou amargo, revoltado, queixoso em face das acusações injustas.
Quarto, como servo de Potifar, servia não somente para agradar e receber favores, mas o fazia com fidelidade a Deus.
Quinto, não cedeu à tentação mais sutil da mulher de Potifar. Mesmo indo para a prisão, ao ser elevado ao poder não procurou vingar-se dela.
Sexto, mesmo sendo preso injustamente, na cadeia, revelou um caráter impoluto, uma conduta irrepreensível.
Sétimo, como governador ao Egito, tendo poder em suas mãos, nunca procurou vingar-se daqueles que lhe fizeram mal. Ele fecha sua biografia sendo chamado de Zafenate Panéia, salvador do mundo, um verdadeiro tipo de Cristo!


(capítulo 9 do livro QUATRO HOMENS, UM DESTINO - Hernandes Dias Lopes)

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