6 de agosto de 2011

4 - O TRIUNFO DA FÉ

O TRIUNFO DA FÉ
(Gn 22.1-19)

A fé prevalece com Deus, vence o pecado, derrota Satanás e triunfa sobre as dificuldades. Deus tirou Abraão da masmorra de Satanás, chamando-o de uma terra idolatra para ser o pai da fé.
O capítulo 22 de Gênesis relata um episódio que constitui a experiência máxima de Abraão como homem de fé. Deus lhe promete um filho, demora 25 anos para cumprir a promessa. Agora que o filho já é um adolescente, Deus pede esse filho a Abraão em holocausto. Abraão obedece prontamente, sem questionar, por entender que Deus era poderoso para ressuscitar seu filho. Sem fé, esse ato é loucura e paranóia. Sem fé, o gesto de Abraão é um atentado criminoso. Sem fé, Abraão é um homem senil, e não um herói; um carrasco sem ração, e não um gigante de Deus.Esse episódio revela a grande batalha da fé

Três verdades podem ser destacadas para retratar essa batalha da fé:
Em primeiro lugar, a fé que suporta a maior prova (Gn 22.1,2). A fé verdadeira sempre é provada. Ela não se enfraquece nas provas, mas torna-se ainda mais robusta e combativa. Vejamos algumas lições:
Primeiro, a fé não testada é fé insegura. O que Abraão revela não é crendice, não é fé infantil, imatura, mas fé adulta, guerreira. A qualidade do metal é comprovada por aquilo que pode suportar. A coragem do soldado se evidencia na luta. Só uma casa edificada sobre a rocha enfrenta a fúria da tempestade sem desabar. Deus pede a Abraão seu filho amado, o melhor que ele tem. Pede tudo. Pede mais do que sua vida. Pede seu amor. Pede seu filho em sacrifício.
Segundo, as provas não só testam a fé, mas a revigoram. Os músculos exercitados tornam-se mais rijos. O corredor bem treinado tem melhor desempenho na corrida. As tribulações produzem paciência, e esta conduz a ricas e profundas experiências.
Terceiro, o autor da prova é o próprio Deus. Abraão crê em Deus e Lhe obedece porque sabe que a loucura [aos olhos dos homens] de Deus é sabedoria ainda não descoberta. Deus o prova não para envergonhá-lo ou derrotá-lo, mas para elevá-lo.
Em segundo lugar, a fé que vence dificuldades para obedecer. Há sete dificuldades que Abraão deve ter enfrentado para obedecer a Deus nesse assunto:
Primeiro, a ordem de Deus parece contrária à lei antecedente de Deus (Gn 9.5,6). Há momentos em que a palavra de Deus parece contraditória, pois ele nos pede coisas que parecem estar na contramão de sua própria verdade revelada. Mas essa contradição é apenas aparente, pois Deus é luz, e não há nele treva nenhuma.
Segundo, a ordem de Deus era contrária à grande afeição que Abraão tinha pelo filho. Isaque representava o maior bem que Abraão possuía. Isaque era seu próprio coração pulsando em seu peito. Entregar Isaque era dar tudo, dar a si mesmo.
Terceiro, a ordem de Deus era contrária ao bom senso. Sacrificar Isaque frustraria todos os sonhos de Abraão. Mas ele levou sua razão cativa à obediência da fé e entregou seu filho amado.
Quarto, a ordem de Deus era contrária à promessa de Deus. O Senhor havia dito a Abraão: "Em Isaque será chamada a tua descendência". Quando Deus parece entrar em conflito Consigo mesmo e Sua ordem, em conflito com Sua promessa, precisamos descansar em Sua soberania e obedecer sem duvidar.
Quinto, Deus não lhe deu nenhum motivo para ele cumprir essa ordem. Deus, simplesmente, deu-lhe uma ordem sem dar-lhe qualquer justificativa. A fé não busca razões; ela se contenta em obedecer. Ela não olha para a plausibilidade da ordenança, mas para aquele que ordena. Abraão conhecia Deus, por isso confiava nele.
Sexto, como ele poderia olhar novamente para o rosto de Sara? Aquela decisão atingia diretamente Sara. Isaque também pertencia a ela. Sua confiança em Deus afastou dele todo o temor de uma crise conjugai. Ele não caminhou inseguro nem nutriu nenhuma dúvida em seu coração. Ele não trabalhava com a possibilidade da tragédia, mas com a certeza do milagre.
Sétimo, como ficaria sua reputação diante dos egípcios e dos cananeus? Isso seria uma eterna reprovação a Abraão e seus altares. Mas porque agiu por fé, seu testemunho tem iluminado o caminho de milhões de pessoas em todo o mundo há séculos.
Em terceiro lugar, a fé que dá vários passos rumo à obediência. Abraão dá nove passos na direção da obediência quando submetido à maior de todas as provas. Já abordamos esse ponto no capítulo anterior, mas o aprofundaremos agora um pouco mais.
Primeiro, Abraão discerne a voz de Deus e responde ao seu chamado (Gn 22.1). Deus bradou: "Abraão!". Ele respondeu, imediatamente: "Eis-me aqui". Porque Abraão discerniu a voz de Deus, responde a seu chamado mesmo antes de saber o que era. Abraão estava sempre no centro da vontade de Deus, onde Deus queria, fazendo o que Deus queria, na hora em que Deus mandava.
Segundo, Abraão confia no caráter de Deus, por isso Lhe obedece sem demora e sem reservas (Gn 22.3). Ele não questionou Deus. Não duvidou de sua palavra. Ele não esperou até Deus mudar de idéia. Ele não ficou decepcionado com Deus nem entrou na caverna da depressão. Abraão obedeceu ainda que a ordem de Deus tenha parecido sem sentido. A procrastinação é um convite à ruína. Protelar é um laço astucioso do diabo. As ordens desatendidas são um caminho para a perdição. Abraão levantou-se de madrugada. Ele obedeceu rapidamente.
Terceiro, Abraão preparou todas as coisas para o sacrifício. Abraão obedece não apenas de imediato, mas integralmente. Ele leva todos os ingredientes para o sacrifício: lenha, fogo, cutelo e o cordeiro. Ele tem disposição para obedecer. Deus não aceita obediência parcial, pois isso é desobediência total.
Quarto, Abraão obedece, em vez de especular. A fé demonstrada por Abraão não é fé especulativa que quer saber onde, por que, para que, mas a fé que quer ir para onde Deus manda. Abraão age de forma oposta ao profeta Jonas. Deus mandou este ir para Nínive, e ele foi para Társis. Deus man¬dou Abraão oferecer seu filho em holocausto, e ele caminhou resolutamente na direção apontada por Deus. Se quiséssemos fazer a vontade de Deus mais do que sabê-la, não haveria ninguém que não a soubesse. Deus mandou Abraão para o monte Moriá, e para lá é que ele foi. Moriá significa "manifestação de Iavé". E no monte da obediência que Deus Se manifesta.
Quinto, Abraão foi persistente em obedecer a Deus (Gn 12.4). Ele caminhou três dias, tempo suficiente para dúvidas assaltarem sua mente. Tempo suficiente para buscar rotas de fuga. Tempo suficiente para entregar-se a racionalizações e desculpas. Três dias foi tempo bastante para que a incredulidade sussurrasse em seus ouvidos muitos pensamentos dissuasivos. Foi tempo bastante longo para que o amor pelo filho suplantasse o amor a Deus. Mas Abraão persiste, persiste em obedecer.
Sexto, Abraão deixou seus servos a distância (Gn 12.5). Ele não queria que ninguém o impedisse de obedecer a Deus integralmente. Ele está determinado a levar Deus a sério. Ele não compreende, mas está certo de que Deus sabe o que faz.
Sétimo, Abraão é capaz de transformar a tragédia em adoração (Gn 22.5). Abraão disse a seus servos: "... depois de adorarmos, voltaremos". Ele não mataria seu filho: ele o sacrificaria. Ele levantaria um altar. Ele adoraria. Abraão compreendeu que devemos obedecer a Deus ainda que Ele pareça contraditório. Parece que Deus luta contra Deus; a verdade, contra a verdade; e o mandamento, contra a promessa. Abraão compreende que Isaque pode morrer, mas Deus não pode deixar de ser Deus fiel, e não pode deixar de cumprir Sua promessa. Deus não procura pessoas que argumentem, mas as que adorem e obedeçam!
Oitavo, Abraão, pela fé, crê na ressurreição de todas as promessas de Deus (Gn 22.5). Abraão ainda diz a seus servos: "... voltaremos". Em Hebreus 11, lemos que Abraão creu que Deus ressuscitaria Isaque. As promessas de Deus não morrem. Para Deus, nunca haverá impossibilidades no cumprimento de Suas promessas. Abraão esperava um milagre. Ele vislum¬brava a ressurreição!
Nono, Abraão crê na provisão divina (Gn 22.7,8). Ali, Abraão proferiu pela primeira vez este nome de Deus:
Jeová-Jiré. Ele sabia que Deus nunca falha, nunca decepciona. Ele sabia que os caminhos de Deus, mesmo na tormenta, são seguros. Nas horas das trevas mais espessas, Deus sempre acende uma luz em nosso caminho. Quando estamos na estrada da obediência, Ele sempre provera! É no monte do Senhor, na terra da obediência sacrificial, que o Senhor prove!

Esse episódio revela a recompensa da fé
Três verdades benditas emanam dessa experiência de Abraão:
Em primeiro lugar, o livramento (Gn 22.11,12,14). O livramento de Deus pode ser visto de duas maneiras gloriosas:
Primeiro, Isaque é poupado. O mesmo Deus que ordena Abraão sacrificar Isaque é o Deus que proíbe Abraão de imolar o filho. O mesmo Deus que pede Isaque em sacrifício providencia o substituto. O mesmo Deus que pede o filho providencia o cordeiro. Deus não queria Isaque, mas a obediência de Abraão.
Segundo, Abraão é exaltado. Deus diz: "Agora sei...". Não que Deus não soubesse. A firmeza de Abraão não surpreendeu Deus, mas foi um testemunho para o mundo. Deus provou Abraão para que seu exemplo se tornasse uma fonte de encorajamento para milhões de outras pessoas. Porque Abraão obedeceu, Deus o exaltou e fez dele o pai e o paradigma de todos os que crêem.
Em segundo lugar, o substituto (Gn 12.13). O cordeiro, símbolo de Cristo, é providenciado para substituir Isaque. No monte Moriá, Deus poupou Abraão e Isaque. Poupou o pai e o filho. Todavia, dois mil anos depois, Deus não poupou a Si mesmo nem a Seu próprio Filho, antes por todos nós o entregou (Rm 8.32). Aquele cordeiro sacrificado em lugar de Isaque apontava para Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). A Bíblia diz que Abraão exultou por ver o dia de Cristo, "viu-o e alegrou-se" (Jo 8.56).
Em terceiro lugar, a promessa (Gn 22.16-19). Deus faz menção da obediência de Abraão como consideração do pacto (Gn 22.16). Deus agora confirma a promessa do pacto (Hb 6.13). Deus promete a Abraão uma numerosa descendência. Ele não perde o filho e ainda ganha milhares de milhares de outros filhos.

Esse episódio revela o glorioso exemplo da fé que aponta para o maior acontecimento da História
Como nenhum outro episódio, este aponta para o amor do Pai e o sacrifício de Jesus na cruz. A entrega de Isaque é um farol a apontar o amor eterno e sacrificial do Pai que deu Seu Filho para morrer por nós, pecadores. Algumas semelhanças entre esse gesto de Abraão e o amor do Pai podem ser aqui identificadas.
Em primeiro lugar, assim como Abraão, Deus não poupou Seu próprio Filho (Hb 11.17; Rm 8.32). Abraão entregou seu filho a Deus, e Deus entregou Seu Filho para morrer pelos pecadores.
Em segundo lugar, Isaque foi o filho do coração como Jesus foi o Filho amado (Gn 22.2; Jo 3.16). Assim como Isaque era o filho da promessa, o filho amado de Abraão, Jesus é o Filho amado, em Quem Deus tem todo o prazer.
Em terceiro lugar, Isaque foi a Moríá sem reclamar; Jesus, como ovelha muda, foi obediente até a morte, e morte de cruz- A lança luz sobre a atitude de Jesus caminhando para o Calvário, sem abrir a boca e sem lançar maldição sobre seus exatores.
Em quarto lugar, Isaque foi filho de profecias; Jesus é o Filho de profecias. Isaque foi prometido por Deus. Seu nascimento foi profetizado. Seu nascimento veio por uma intervenção miraculosa de Deus, no tempo oportuno de Deus. Assim, também, Jesus veio ao mundo para cumprir um propósito do Pai. Sua vinda foi prometida, preparada. Ele nasceu para cumprir um plano perfeito do Pai.
Em quinto lugar, Isaque teve seu sacrifício preparado (Gn 22.2,3); o sacrifício de Jesus foi planejado na eternidade (Ap 13.8). Assim como Deus estabeleceu os detalhes do sacrifício de Isaque, também planejou desde a eternidade a entrega, o sacrifício e a morte viçaria de Seu Filho na cruz.
Em sexto lugar, Abraão e Isaque caminham sós para o Moriá; Jesus também bebeu o cálice sozinho, mas conversando com o Pai. Os servos de Abraão ficaram no sopé do monte Moriá. Os homens abandonaram Cristo, inclusive Seus discípulos. Jesus, quando suou sangue no Getsêmani, estava só. Ele, só Ele, e o Pai travaram aquela batalha de sangrento suor. Jesus marchou para a cruz sob os apupos da multidão e tendo como único refúgio a intimidade com o Pai.
Em sétimo lugar, Isaque carregou a madeira para o sacrifício; Jesus carregou a cruz. Assim como Isaque levou a lenha para o sacrifício no monte Moriá, Cristo carregou a cruz para o Gólgota, onde morreu por nossos pecados.
Em oitavo lugar, Abraão e Isaque caminham sempre juntos; o Pai e o Filho fizeram na eternidade um pacto de sangue para salvar o homem e andaram sempre juntos. Sempre houve comunhão perfeita entre o Pai e o Filho. Sempre andaram juntos nesse glorioso propósito de remir-nos.
Quando caminhamos pela fé, mostramos ao mundo não só nossa fidelidade a Deus, mas revelamos ao mundo o próprio coração de Deus, Deus poupou Abraão e Isaque, mas não poupou Seu Filho. Ele não providenciou um cordeiro substituto para Jesus. Ele viu Seu clamor e não O amparou. No topo do Calvário, há uma bandeira que drapeja e proclama: "Deus provera". Ele providenciou para nós perdão e salvação. Olhe para o Cordeiro de Deus. Olhe para Jesus, com fé, e seja um filho de Abraão, seja um filho de Deus!



(capítulo 4 do livro QUATRO HOMENS, UM DESTINO - Hernandes Dias Lopes)

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